opinião

Quando a teimosia vence

Aquiles Reis
08/07/2020 às 14:44.
Atualizado em 28/03/2022 às 21:03
Quando a teimosia vence (Divulgação)

Quando a teimosia vence (Divulgação)

Somos todos uns teimosos. E, creio, a teimosia vem do amor à música. Os teimosos perseveram. Preconceitos, violência, não há nada que os faça desistir – a teimosia é a força do corajoso. E por falar nisso, apresento-lhes o Trio Teimoso. Em menos de quinze minutos de música, Leonardo Freitas (piano), Guilherme Carvalho (batera) e Alexandre Brant (contrabaixo) se mostram num EP caprichado. Eles são de Ribeirão Preto e de lá dispararam um bem-sucedido financiamento coletivo, que culminou com o lançamento de um EP independente (com bela capa concebida em patchwork por Maysa Rizzatti). E lá se foi o trio a acalentar o sonho de tocar o choro para melhor sabê-lo. Além desse gênero musical, eles convivem com outros próximos a ele. Músicas ajuntadas à sua matéria-prima de fé. Misturadas num liquidificador musical, descobriram o jeito próprio de o Trio Teimoso tocar choro. O Teimoso tem uma concepção instrumental nada convencional: piano, contrabaixo e batera. Apoiado pelo piano e pela batera, o contrabaixo e seus graves saltam aos ouvidos, numa sonoridade que “engorda” a formação inusual. Sente-se que os rapazes têm orgulho e prazer pelo som conquistado. Façanha que demonstra, dentre outros tributos, que o choro ainda tem muito a criar e a se reescrever. Os autores das quatro faixas do EP são do interior paulista. A primeira, Vai, XV, é de Rui Kleiner (também diretor musical do EP); a seguir, Ouro Preto, de Paula Borghi; a terceira, Nem Demorou Tanto Assim, de Alan Silva; e, fechando a tampa, Troca de Passe, parceria de Alexandre Peres com Lucas Oliveira. A primeira: a intro tem o contrabaixo tocando notas soltas. Logo o piano adere ao baixo e às notas soltas. O tema vem com o piano tocando em acordes, enquanto baixo e batera seguram a levada. Piano e baixo dialogam. Volta o tema, quando o baixo, graças à mixagem de Thiago Monteiro (ele acertou a mão nas mixagens), assume o protagonismo do arranjo (todos eles do Trio Teimoso). Logo vêm os improvisos. Tacet. Apoiada pelo baixo, a batera sola. A melodia é o máximo. O solo vem pro piano. A tampa fecha com um glissando do contrabaixo. A segunda: o piano, com notas agudas soltas, chega lentamente. Vem o ritmo e com ele o belo choro. O piano sola o tema, o baixo o ampara. O batera tem o pulso firme. A delicadeza é toda graça. O suingue é rei. A terceira: o samba vem sapeca que só ele. O Teimoso é pura cadência. A segunda parte é esperta como ela só. Piano e baixo se ajuntam e brilham. A uma virada da batera, o tema reacende o fogo. Logo eles vão ao final. A quarta: a batera abre em ritmo agitado. A melodia é entusiasmante. O Teimoso vai que vai na pegada das baquetas do batera. Piano e baixo brilham. Voltando ao tema, a batera vira com gosto... Meu Deus! Graças aos atributos do Trio Teimoso, nós, os amantes da música instrumental, podemos desfrutar de um trabalho que eleva a música tocada ao pódio da exuberância. E viva a teimosice, a seiva do ser bem-sucedido.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por