CONFLITO INTERNO

Protestos contra o governo reúnem milhares em Istambul

Este é o 4º dia consecutivo de confrontos entre policiais e manifestantes hostis ao premiê turco

France Press
03/06/2013 às 20:09.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:40

Milhares de pessoas tomaram mais uma vez, na noite desta segunda-feira (3), a Praça Taksim de Istambul, enquanto a polícia interveio para dispersar manifestações que se aproximavam de gabinetes do chefe de governo, Recep Tayyip Erdogan, em Istambul e em Ancara.

Este é o quarto dia consecutivo de confrontos entre policiais e manifestantes hostis ao primeiro-ministro da Turquia. Erdogan negou qualquer tentativa de uma guinada autoritária e rejeitou a ideia de uma "Primavera Turca", afirmando no Marrocos, onde realiza uma visita, que a situação está voltando à normalidade em seu país.

Enquanto isso, pela primeira vez a morte de uma pessoa foi registrada desde o início do movimento. A União de Médicos turcos anunciou a morte de um jovem no domingo à noite em Istambul, atropelado por um carro que avançou sobre os manifestantes.

Uma das mais importantes confederações sindicais turcas convocou nesta segunda a uma greve de dois dias, a partir de terça, para denunciar o recurso ao "terror" por parte do Estado contra os manifestantes que desafiam o governo.

"O terror exercido pelo Estado contra manifestações totalmente pacíficas é mantido de tal forma que ameaça a vida de civis", considerou a Confederação dos Sindicatos do Setor Público (KESK) em um comunicado divulgado em seu site.

A KESK, que reivindica 240.000 afiliados nos onze sindicatos, também considerou que a brutalidade da repressão traduz "a hostilidade com a democracia" do governo islâmico conservador no poder.

Nesta segunda, manifestantes e forças de ordem voltaram a entrar em confronto, tanto em Ancara, na praça central de Kizalay, quanto em Istambul, nas imediações dos gabinetes do primeiro-ministro. Policiais atacavam com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, enquanto manifestantes respondiam com pedras.

Ainda mais determinados, os manifestantes tomaram novamente a Praça Taksim, coração dos protestos, que tinha sido abandonada no sábado pelas forças de ordem. Eles agitavam bandeiras turcas e gritavam "Tayyip, renuncie!"

Erdogan desafiou os manifestantes antes de de deixar a Turquia nesta segunda à tarde para uma viagem de quatro dias pelos países do Magreb.

"Sim, estamos agora na primavera, mas não deixaremos que se torne um inverno", acrescentou, referindo-se à "Primavera Árabe".

Algumas horas depois, na capital do Marrocos, Erdogan afirmou durante uma coletiva de imprensa que a situação "está voltando à calma".

"Quando eu voltar desta visita (ao Magreb, nr), os problemas serão resolvidos", acrescentou.

O chefe de governo também acusou os opositores de tentarem se aproveitar deste movimento de contestação.

A Bolsa de Istambul caiu 10,47% no fechamento da sessão desta segunda, devido à preocupação dos mercados com o panorama no país.

Violência policial

Desde sexta-feira, o protesto de alguns militantes contra o projeto de destruição de um parque público de Istambul se espalhou aos poucos por toda a Turquia.

Acusado de uma guinada autoritária e de querer "islamizar" a sociedade turca, Erdogan enfrenta hoje um movimento de contestação de uma amplitude inédita desde a chegada ao poder de seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, originário do movimento islamita), em 2002.

A violência dos três últimos dias deixou mais de mil feridos em Istambul e pelo menos 700 em Ancara, segundo organizações de defesa dos direitos humanos e sindicatos de médicos das duas cidades.

De acordo com o ministro do Interior, Muammer Güler, a polícia havia detido mais de 1.700 manifestantes no domingo, sendo que a maior parte foi rapidamente liberada.

A brutalidade da repressão, amplamente divulgada pelas redes sociais turcas, suscitou diversas críticas de países estrangeiros.

O secretário de Estado americano, John Kerry, condenou mais uma vez o uso "excessivo" da força por parte dos policiais na aliada Turquia.

França e Reino Unido também denunciaram a brutalidade da repressão, enquanto a ONG Anistia Internacional pediu que as autoridades de Ancara parem imediatamente de recorrer à força de forma "abusiva".

Em Atenas, milhares de gregos, principalmente de esquerda, expressaram nesta segunda seu apoio aos manifestantes turcos, enquanto em Nova York cerca de cem pessoas bradavam "Queremos liberdade!" diante do consulado da Turquia.

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