DENGUE

Projeto com mosquito transgênico é lançado em Piracicaba

Mosquitos Aedes aegypti modificados geneticamente representam uma nova etapa na luta contra a dengue em Piracicaba

Ana Cristina Andrade
03/03/2015 às 13:21.
Atualizado em 23/04/2022 às 18:33
Mosquitos Aedes aegypti modificados geneticamente representam uma nova etapa na luta contra a dengue em Piracicaba ( Christiano Diehl Neto)

Mosquitos Aedes aegypti modificados geneticamente representam uma nova etapa na luta contra a dengue em Piracicaba ( Christiano Diehl Neto)

Piracicaba é a primeira cidade do Estado de São Paulo a receber o “Aedes aegypti do Bem”, projeto desenvolvido pela Oxitec do Brasil e que visa diminuir significativamente a quantidade do mosquito da dengue e da chikunguya na área a ser tratada. O bairro escolhido para o projeto-piloto é o Cecap, que tem em torno de 5 mil habitantes e apresentou 17 casos de dengue desde o início deste ano. O “mosquito do bem” será desenvolvido a partir da utilização do mosquito Aedes aegypti OX 513-A (uma linhagem geneticamente modificada do Aedes aegypti selvagem). Ontem mesmo, após anúncio oficial feito no gabinete do prefeito Gabriel Ferrato (PSDB), um grupo da Oxitec foi para o bairro iniciar um trabalho de conscientização da população.Com uma gaiola cheia de mosquitos machos, moradores puderam ter contato com eles sem que fossem picados. Terminado esse prazo de conscientização, terá início a soltura (a previsão é para meados ou final de abril). De acordo com Guilherme Trivelatto, gerente do projeto, o mosquito macho, produzido em laboratório, vai ser liberado na natureza, irá encontrar-se com a fêmea, cruzar. A fêmea irá colocar os ovos que vão dar as larvas, que morrem antes de chegarem à fase adulta.“Temos duas linhas a seguir quando formos fazer a soltura. Uma será a área de liberação e a outra a parte de monitoramento. A liberação a gente faz com potes plásticos, preparando antes com 1.000 mosquitos por pote, e vamos abrindo-os de maneira a sobrepor a área de voo dos mosquitos, para que seja montada uma distribuição uniforme dos mosquitos dentro da área a ser tratada”, declarou o gerente.Paralelamente a isso, segundo ele, será feito o monitoramento das armadilhas de ovos, que são chamadas de ovitrampas, e as armadilhas de adulto. “Conseguimos monitorar a população de ‘mosquitos do bem’ efetivamente nas áreas de controle e áreas de tratamento. A gente consegue, de uma maneira não pontual, resultados semanais”, destacou. Segundo Trivelatto, serão feitas solturas de 100 a 200 mosquitos por habitante, por semana, divididas em três liberações. “A expectativa é que após quatro a seis meses de liberação, o nível da população de mosquito transmissor da dengue e da chikunguya na área tratada já tenha caído significativamente em relação às áreas não tratadas”, explicou.ExperimentoPara que não restem dúvidas quanto ao projeto, e com objetivo de conscientizar a população do Cecap, além de panfletos com detalhes do “mosquito do bem”, funcionários da Oxitec levaram ontem para o bairro duas gaiolas cheias de pernilongos machos.Foi uma forma de mostrar à população que ele não pica. Foi o que comprovou Ana Laura Tunussi Pitombeira, 10, estudante da 5ª série. “O mosquito da dengue faz muito mal para nós. Temos que eliminar todos os criadouros. Acho que esse projeto vai ajudar muito a combater essa doença”, disse.Raimunda Eugênia Nunes, 61, relutou no início, mas acabou confiando e colocando a mão na gaiola. Ficou cheia de pernilongos, mas não levou nenhuma picada. “É que já tive dengue, por isso fiquei com receio. Espero que este projeto dê resultado”, observou.O porteiro Misael José de Oliveira, 41, também fez o teste e disse que aprovou. “Tomara que acabe com o mosquito da dengue. Se isso acontecer será muito bom”, dizia ele à supervisora de produção e ensaio de campo da empresa, Cecília Kaosmann.Dever de todosMoisés Taglieta, diretor da Vigilância e Saúde do município, disse que esse projeto significa quase que uma luz ao fim do túnel. “A gente vem lutando contra a dengue - o país inteiro - e achamos que fazemos um bom trabalho. Porém, não depende única e exclusivamente do nosso serviço, e sim muito da população, do entendimento que as pessoas têm sobre esse mecanismo”.Ele disse que muitos estão falando em um novo tipo de dengue, geneticamente modificada, quando na verdade está se trabalhando o mosquito geneticamente modificado. “A doença não mudou. O que mudou foi o vetor, porque hoje ele consegue se reproduzir até em água salgada. Para nós, é uma grande arma contra essa luta”, salientou. Gabriel Ferrato disse que Piracicaba tem um comprometimento com a questão da dengue na cidade e que os desafios passam a ser maiores a cada momento. “Surgiu essa oportunidade de fazermos essa experiência com o mosquito geneticamente modificado. É algo bastante favorável, porque não tem radiação e vai proteger, como é atestado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, que não terá nenhum efeito nocivo à população”, afirmou.Segundo ele, a prefeitura gasta entre R$ 6 milhões e R$ 7 milhões, por ano, com o enfrentamento do mosquito. “Se pudermos reduzir esse gasto será ótimo para as finanças públicas. Os custos do projeto só poderá serão avaliados depois. Vamos comparar o que gastamos hoje mais o que gastaríamos com uma nova abordagem. Com este projeto, Piracicaba está dando uma contribuição importante para a saúde pública do país”.Ferrato lembrou que, mesmo com essa nova ferramenta, não se pode deixar de lembrar que a população deve eliminar os criadouros, que é a forma mais eficaz de se prevenir a doença.

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