Coluna publicada na edição de 16/5/18 do Correio Popular
O Sporting conquistou 78 pontos no Campeonato Português. Ganhou 24 partidas, empatou seis e perdeu apenas quatro, a última delas no domingo (2 a 1 para o Marítimo, fora de casa). O resultado negativo diante de um time competitivo (terminou em 7º lugar) que vinha de três derrotas foi desastroso para o clube, que precisava vencer e torcer para que o Benfica no máximo empatasse com o Moreirense. Deu tudo errado. O rival venceu por 1 a 0 (gol de pênalti do ex-bugrino Jonas) e o Sporting perdeu com um gol nos acréscimos. Assim, terminou em terceiro lugar e se classificou para a próxima Liga Europa. As cobiçadas vagas na Liga dos Campeões ficaram com Benfica e Porto, o grande campeão. Foi mais um campeonato normal, com os três maiores clubes do país nas três primeiras posições. Mas parece que, para alguns “torcedores” do Sporting, a campanha foi inadmissível, vergonhosa e inaceitável. Esses “torcedores” ficaram tão indignados que, encapuzados, invadiram o clube ontem e agrediram jogadores como Bas Dost (vice-artilheiro do Português com 27 gols, atrás apenas de Jonas, que fez 34), Battaglia, Misic e Acuña, além do técnico Jorge Jesus e seu auxiliar, Mário Monteiro. Dost, um holandês de 28 anos, foi covardemente derrubado e agredido com socos e chutes. Teve ferimentos na cabeça e sangrou bastante. Essa agressão é uma aberração. Seria inadmissível mesmo se a equipe tivesse sido rebaixada. Ficar em terceiro, atrás apenas dos dois maiores campeões do futebol português, é absolutamente normal para o Sporting, a terceira força no país. Mesmo assim, os tais “torcedores”, covardes e criminosos, se acham no direito de invadir o treino e espancar atletas. Eles também invadiram o vestiário e, usando tochas, tentaram incendiar o local. Como o futebol chegou a esse ponto? A resposta é simples. Durante décadas, clubes e federações foram tolerantes com a violência. Punições brandas (algumas inócuas como a estupidez de proibir o uso de faixas e bandeiras) e a cumplicidade de dirigentes permitiram que o monstro ficasse desse tamanho. Agora que vários de seus jogadores querem deixar o clube e Lisboa, o Sporting soltou uma nota de repúdio à violência. Mas notem como é muito raro, no Brasil e no mundo, ver um cartola se manifestar publicamente contra “torcedores” violentos”. “Torcedores” que eles costumam agraciar com apoio logístico, festas e ingressos. Antes de assinar contrato com um clube, todo atleta é submetido a exames médicos. Geralmente, também tem seu histórico investigado e avaliado pelo empregador. Isso é natural. Mas o futebol vive um momento tão surreal que cada atleta deveria ter o direito, antes de assinar o contrato, de fazer a seguinte pergunta: “Presidente, de que lado o senhor está?”