Blogueira cubana foi proibida por seu país de usar sala oficial de coletivas de imprensa
A blogueira e dissidente cubana Yoani Sánchez (France Press)
A apresentação da blogueira opositora cubana Yoani Sánchez na sede das Nações Unidas, em Nova York, desencadeou nesta quinta-feira (21) a um incidente diplomático, diante da exigência de Cuba de que não utilizasse a sala oficial de coletivas de imprensa da organização.
A blogueira, que está em uma viagem internacional desde fevereiro, teve que ir a uma sala improvisada do andar ocupado pela Associação de Correspondentes da ONU (UNCA, sigla em inglês), organizadora do encontro e não no grande auditório.
Durante a coletiva de imprensa, Sánchez, de 37 anos, denunciou as ações do "longo braço do castrismo" para "evitar que as vozes críticas não governamentais tenham acesso a espaços em organismos internacionais", e indicou que "já é hora" de a ONU "sair de sua letargia e reconhecer que o governo cubano é uma ditadura".
"Estou orgulhosa de que minha primeira vez neste edifício tão significativo das Nações Unidas seja com meus colegas correspondentes. Valorizo muito", acrescentou a blogueira que, na véspera, foi recebida na Casa Branca e no Congresso americano em Washington.
A decisão de não permitir que Sánchez utilizasse o auditório principal para coletivas de imprensa atendeu a um pedido expresso do embaixador cubano na ONU, Rodolfo Reyes, ao secretário-geral Ban Ki-moon, através de uma carta oficial de protesto enviada na segunda-feira.
Na mesma carta, o governo cubano solicitou que "não seja permitido que as instalações da Organização sejam manchados e sua utilização manipulada em função de interesses espúrios".
"Incidentes como este infringem um severo dano ao funcionamento normal e à credibilidade das Nações Unidas", sustenta o documento do qual a AFP obteve uma cópia.
Para o embaixador Reyes, a coletiva de imprensa organizada pela UNCA foi um "ato anti-cubano" e considerou um "grave atentado" contra o clima de cooperação nas Nações Unidas, segundo a carta.
Em meio ao incidente que desencadeou a chegada de Sánchez, o porta-voz de Ban Ki-moon, Martin Nesirky, deixou claro nesta quinta-feira que a coletiva de imprensa não foi organizada pela secretaria da ONU, mas pela UNCA, "uma entidade independente".
"Como princípio, a ONU não interfere em eventos da UNCA. O encontro não estava sendo realizado no auditório da secretaria da ONU", destacou.
Yoani Sánchez teve que esperar anos para obter seu passaporte e fazer esta viagem internacional, algo que finalmente conseguiu graças a uma recente reforma migratória.