HENRIQUE NUNES

Precisavam falar sobre o Kevin

Henrique Nunes
09/04/2013 às 21:58.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:06

Minha Nossa Senhora de Santa Cruz de La Sierra, que pasó en Bolívia? O povo que clamou (e ainda clama) por justiça, chorou a tragédia estúpida importada do país vizinho e velou o futebol ainda precário da América Latina, sábado apenas sorriu e vibrou diante de mais uma derrota — desta vez, amistosa, festiva e até desnecessária. Vibrou com Ronaldinho Gaúcho e Neymar, cantou em coro durante os 90 minutos de jogo. De quebra, jogaram a memória na sarjeta. A memória do menino Kevin, diga-se.

Antes de a bola rolar, ninguém dava bola para o jogo, a não ser pela "causa" a que ele se propunha. Vendido por aqui como o Jogo da Paz, pouco serviu para avaliar ou definir as duas equipes, mesmo que Felipão tenha o que comemorar com o bom desempenho de muitos suplentes que sequer haviam sido convocados em outras ocasiões. Serviu ainda menos para mostrar comprometimento e respeito por quem serviu de pretexto para a partida. Dois meses se passaram desde que o foguete lançado por um imbecil matou Kevin e por aqui só lembramos disso porque ainda há um punhado de brasileiros presos na Bolívia à espera de resgate. O assunto agora infelizmente é outro e a família do menino morto já começa a se queixar da falta de apoio ou ressarcimento (impagável) pela perda do filho de 14 anos.

O Jogo da Paz em Santa Cruz de La Sierra não deveria ter acontecido. Tudo bem, houve festa, os bolivianos mais uma vez mostraram enorme respeito pelos brasileiros presentes, Ronaldinho e Neymar retribuíram com bom futebol, um ou outro convocado comemorou a chance dada (ainda que possa ser a única da sua vida) e ninguém saiu ferido de campo. Mas precisavam falar sobre Kevin. Um minuto de silêncio não basta para apagar uma tragédia.

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