Comer & Beber

Preciosidades de além-mar

Porções generosas de nada valem se não houver sabor

Érica Araium
10/03/2015 às 14:37.
Atualizado em 24/04/2022 às 01:22
Comer ( Carlos Sousa Ramos/ AAN)

Comer ( Carlos Sousa Ramos/ AAN)

Lá pelas bandas do quilômetro 57 da Rodovia Castello Branco, no sentido São Paulo, há uma casa portuguesa, com certeza. Muito embora, de fora, não pareça. Ora, a Quinta do Marquês funciona num megaposto de combustíveis. Da matriz à filial campineira, inaugurada há um ano e meio, vão-se uns bons quilômetros. Por aqui, o endereço está assim assinalado: Km 99 da Rodovia Anhanguera, sentido Americana. A essência é a mesma: “Tem-se um mix de padaria, confeitaria, restaurante e empório. E também loja de presentes, sugestão da esposa do senhor Albino Nunes, um visionário. Ele teve a ideia de criar a marca depois de uma viagem a Portugal, de onde saiu, há 40 anos, para morar em São Paulo”, situa Marcelo Teixeira, responsável pela unidade de Campinas.     Foto: Carlos Sousa Ramos/ AAN Antes de seguir adiante, ele reforça que Nunes, natural de Soure, em Coimbra, radicou-se no Brasil em 1965 e, desde então, empreende nas áreas de construção, turismo, logística e alimentação. “É um senhor empresário, que continua envolvido em todos os ramos de negócio. O filho mais velho mantém os olhos na rede da Quinta do Marquês”, detalha. Funciona na Avenida Faria Lima, em São Paulo, a padoca especializada em quitutes portugueses – pastéis de Belém, de Santa Clara, papo de anjo etc. “A sétima unidade da marca deve ser inaugurada este ano, em Alphaville (Barueri)”, informa Teixeira, acrescentando que foi lá que a primeira padaria de Nunes surgiu. “Quando começaram a levantar os condomínios, o senhor Takaoka, engenheiro idealizador do projeto, chamou o senhor Nunes para atender à demanda de pães e leite dos moradores”, especifica. Nesse ponto, já se percebe que a ligação de Teixeira com a história de seu mentor não é meramente profissional. “Sim, sou da família. E, ao longo de dez anos trabalhando lado a lado, é claro que aprendi muito.”Quando Nunes pensou em investir na região imaginou que o posto do Garcia, como é conhecido o ponto (tradicional em carnes ao longo da história daquela área), carecia apenas de pequena reforma. Mas Teixeira reviu o projeto, desfez-se de quase tudo, comprou equipamentos de ponta para a cozinha (parte deles importada de Portugal), repensou o layout da loja. E vem tratando de conquistar os clientes, de sacramentar que ali se vendem bons pescados e outras preciosidades de além-mar. É uma espécie de anfitrião. “Estou na loja o tempo inteiro, acompanho todas as etapas do processo. Zelo pelos funcionários, produtos, serviços e clientes”, resume ele, que sabe até dos segredos da massa caprichada dos pastéis de Belém, do leitão à Bairrada e do tenro bacalhau, conjugado ali em nove versões.Porções generosas, receitas originais Foto: Carlos Sousa Ramos Não há quem visite a casa e saia frustrado em relação à fartura das porções e dos bocados. Até os doces são apresentados em versões generosas. A explicação para a proposta é simples. “Faz parte da cultura portuguesa, bem como da italiana, comer bem. A fartura é característica. O que chamamos de meio-prato serve bem duas pessoas. Mas aí é que está. De nada adiantará o farto se o sabor faltar. Aqui, garanto, é um pedacinho de Portugal”, pontua Teixeira. Em Campinas e nas outras lojas do grupo há funcionários lusos, que se mudaram com mala e cuia para executar as receitas tão caras à confeitaria e à cozinha quente. “Há quatro pessoas em nossa unidade cuidando dos doces típicos, dos pães, da confeitaria e do leitão. Por que? O pastel de Belém, por exemplo, tem que ser ‘mimado’ diariamente, tratado com cuidado e amor, porque é delicadíssimo. Já conseguimos chegar ao nível da excelência, logo, não pode haver falha no ponto da calda, na dobra da massa, na temperatura do forno, na quantidade de recheio. Um português sabe fazer um doce português como quase nenhum brasileiro fará”. Curioso que só, Teixeira assume, então, que sempre esteve de olho em métodos e procedimentos. “Não sou cozinheiro, mas ajudo se preciso”, afirma.Quase um hotel Foto: Carlos Sousa Ramos/ AAN A operação do restaurante é complexa, dada a variedade de produtos e serviços. Num domingo comum, cerca de quatro mil pessoas passam pela unidade campineira. Por conta disso, o modelo de negócios prevê “segmentação” interna, digamos assim. Como o público é diverso, teve que se pensar em serviços que dessem conta de distintos apetites e bolsos. Há um sistema self-service/bufê que funciona no almoço e no jantar. As vitrines do salão principal estão sempre recheadas de salgados e doces típicos, ideais para uma refeição rápida/porção para viagem. “Oferecemos, ainda, uma espécie de almoço executivo, num bufê mais enxuto. Queremos que o cliente se sinta à vontade”. E há o restaurante que funciona em sistema à la carte, sob mais pompa e circunstância.   Cada cozinha tem seu chef (são três) e a logística de operações se assemelha à de um hotel. “A estrutura que temos, aliás, muitos hotéis não têm”, defende Teixeira. A cozinha do bacalhau atende à demanda do à la carte – o pescado é servido somente nesse sistema; a do bufê, dinâmica, toda a parte de cozinha fria e ordens do dia; a do leitão fica exclusiva à preparação do porco, assado inteiro no rolete, num forno imenso, importado de Portugal e que, se tiver de ser desligado, demandará meio dia até esfriar. “Além do prato típico, servimos lanche de pernil, que faz o maior sucesso. Então, haja leitões”, brinca. Empório adegaA adega da loja é capítulo à parte. Reconhecida, comporta atualmente 305 rótulos portugueses e de outros tantos países. Importadoras da região, como a Vinci e a P.P.S., incumbem-se de abastecer o estoque e municiar a casa com rótulos consagrados e premiados de todas as regiões de Portugal. Por questão de coerência, a marca apostou na produção de vinhos próprios (tinto e branco da Quinta do Marquês), elaborados na região do Alentejo. “Já é a segunda safra que produzimos. Desta vez, foram 13 mil garrafas”, conta Teixeira.  

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