GUSTAVO GUMIERO

Pra não dizer que não falei de flores

Gustavo Gumiero
igpaulista@rac.com.br
23/02/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 03:32

ig - Gustavo Gumiero (CEDOC)

Caro leitor, há um antigo ditado dizendo que a música é a linguagem universal. Mais que isso, a música é a linguagem de determinado povo, de determinada sociedade. Se percorrermos brevemente a história recente do Brasil, podemos constatar a brilhante obra de Carlos Gomes intitulada “O Guarani”. Emociona só de ouvir a sua introdução no programa Voz do Brasil.

Depois tivemos muitos e excelentes compositores românticos, como Lupicínio Rodrigues, Pixinguinha e tantos outros, que explicitavam a romântica sociedade. Na fase da ditadura, havia o excelente Chico Buarque protestando e sendo exilado pelo governo. Existiu também o movimento da Jovem Guarda.

Já no final dos anos 70 e início dos anos 80 não posso deixar de citar as vozes que gritavam. Renato Russo e Raul Seixas, este último com sua formação humilde, mas erudita. Ficava trancado em seu quarto lendo livros e saía para ver os filmes do Elvis Presley. Ganhou, por isso, um par de óculos, dos quais nunca se livrou na vida. Isso tudo sem citar as excelentes duplas verdadeiramente sertanejas que cantavam o amor ao campo, à natureza, em um tempo que o Brasil era ainda rural.

Gostaria de parar por aqui, mas preciso falar daquilo que toca no rádio atualmente — e que recuso-me a chamar de música. Lembro-me de uma personagem da Escolinha do Professor Raimundo que dizia, com todo o pudor, que o professor só pensava “naquilo”. Hoje, o “naquilo” de antigamente ganhou muitos sinônimos. Basta ligar o rádio e rapidamente se ouvirá os tchus, os tchás, os berês, os barás, os parapás. São reflexos de uma sociedade que não consegue falar de amor e nem de expressá-lo. São reflexos de uma sociedade que perdeu o pudor e que “as coisas que tocam no rádio” estão na boca das crianças e mente dos adultos. São como que mantras que são cantados e não saem da cabeça; nos ocupam e ocupam nosso tempo. Assim, quando sairmos do trabalho é melhor deixar o rádio desligado.

A “música” atual é a encarnação da sociedade que não quer pensar em nada, que não consegue ler um texto e interpretá-lo. A música atual é produzida como um objeto qualquer: há um processo mecanizado, pelo qual decidem-se a introdução, o tempo, a batida, as frases, os refrões. É tudo automático.

Vivemos a era dos faces, mas não dos books! Morreu-se a ideologia e a utopia não existe mais. Pai, afasta de nós esse cálice.

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