JOGO RÁPIDO

Posse de bola basta?

Coluna publicada na edição de 27/2/20 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
carlo@rac.com.br
26/02/2020 às 20:56.
Atualizado em 29/03/2022 às 20:36

Destacar que seu time teve mais posse de bola é um argumento cada vez mais utilizado por treinadores após um resultado ruim. No Brasil, a justificativa é bastante utilizada, como se ter a bola por mais tempo fosse um indicativo inquestionável de que o time está sendo bem treinado e que aquele inesperado tropeço em casa foi apenas uma obra do acaso. A posse de bola passou a ser extremamente valorizada após o revolucionário trabalho de Pep Guardiola à frente do Barcelona. Foi sob o comando do espanhol que o time catalão conquistou a Liga dos Campeões pela última vez, em 2015, com desempenho impressionante do trio ofensivo composto por Suarez, Messi e Neymar. Aquele Barcelona valorizava demais a posse de bola e trocava uma quantidade absurda de passes. Ao mesmo tempo, usava essa incrível capacidade de manter a posse de bola para agredir o adversário. Marcar aquele time durante 90 minutos era um desafio insano. O tempo passou, Guardiola partiu e o Barcelona segue até hoje sendo um time que valoriza a posse de bola. Seu atual treinador, o também espanhol Quique Setién, também gosta desse estilo. Mesmo nos clubes menores que dirigiu recentemente, Las Palmas e Betis, utilizou um esquema totalmente baseado na posse de bola. Isso significa que o clube espanhol escolheu um nome capaz de dar sequência à vitoriosa era Guardiola? Não. Muito pelo contrário. O primeiro tempo de Napoli x Barcelona foi uma demonstração clara de que ter a bola nos pés, por si só, não é garantia de bom futebol. Durante quase todo o tempo, a bola ficou entre a linha de meio-campo e a grande área do time italiano. No mesmo espaço, os 20 jogadores de linha se amontoavam. Os 10 do Barça ficaram trocando passes laterais. Os 10 do Napoli se preocupavam em bloquear espaços. Foi um primeiro tempo muito chato, sem um chute a gol sequer do time que teve 70% de posse de bola. Ainda na primeira etapa, o Napoli roubou uma bola na intermediária e abriu o placar com um belo gol. O Barça voltou um pouco — um pouquinho só — mais agressivo no segundo tempo e empatou. Deve avançar às quartas de final da Champions, mas não mostra no momento futebol de candidato ao título. A apresentação pobre contra o Napoli não foi uma exceção. Em vários outros jogos da temporada também teve amplo domínio na posse de bola e um número pífio de finalizações. Quando o treinador do seu time afirmar que determinada derrota foi injusta porque ele teve mais posse de bola, verifique outros números para concluir se o resultado mesmo foi um acidente ou se ele treina uma equipe que tem dificuldade para chutar a gol.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por