Claudia Matarazzo

Porque amo a Maura

28/10/2012 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 19:49

Maura é minha amiga há mais de trinta anos. Daquelas para toda hora. E todas as horas que passamos juntas se tornaram inesquecíveis, pois ela sempre dá um jeito de transformar o comum ou tedioso em algo interessante e leve. E esse é apenas um de seus muitos encantos.

Nos conhecemos aos quinze anos, na escola, quando ela ria de tudo, inclusive das muitas besteiras que eu falava. Não se intimidava diante das colegas populares e poderosas e interagia com elas como se fosse uma delas, transitando descolada entre várias tribos.

Não tinha inveja de ninguém. Nem mesmo de Renata que era mais linda do que Elizabeth Taylor e Carla Bruni juntas. Também tirava de letra o fato de Ruth, a CDF de plantão, tirar notas muuuuuuito boas, sempre melhores do que as nossas, que eram, no máximo, medíocres. E chegava a rir com a própria Ruth que ficava escandalizada com seu pouco caso.

Maura agregava então e agrega hoje. Serei eternamente grata a ela por ter se integrado como uma verdadeira irmã com minha melhor amiga até então, Susie. Graças a seu espírito gregário e alto astral, hoje somos três grandes amigas, madrinhas comuns em nossos casamentos e comparamos felizes as façanhas de filhos (espero também de netos um dia).

Amo Maura por ter sido muito mais radical do que eu em minha fase hippie e contestadora. Ao radicalizar, ela me deu espaço para puxar meu freio de mão e agir de forma mais compatível com minha a criação burguesa. Ficava em uma zona de conforto possível, pois trocava figurinhas com ela sem me comprometer demais com as causas mais difíceis – dessas ela se encarregava. E sempre de forma leve.

E o que dizer de uma amiga que tem a delicadeza de escolher um marido que você não apenas aprova, mas gosta e que também se dá bem com o seu? Ela conseguiu isso e melhor: Alaor se dá bem com maridos de duas amigas e com as próprias – que o adotaram sem piscar!

Maura também foi a primeira de nós a quebrar uma série de tabus e, com isso, nos mostrava que não havia muito o que ter medo na vida, contanto que tivéssemos um pouquinho de jogo de cintura e ousadia.

Não me lembro nesses anos todos de ter tido nem um único desentendimento com ela. E lá se vão mais de trinta... Há, pelo menos, 25 anos ela foi morar no Rio e fazemos piada com o fato de que, apesar de eu escrever tanto sobre boas maneiras, consigo sempre, todos os anos, infalivelmente, me esquecer do seu aniversário, telefonando com um, dois e até três dias de atraso. E a cada ano com mais vergonha.

O fato é particularmente constrangedor porque ela faz anos exatamente um mês depois de Susie que, por morar aqui, comemora, convida e não me deixa esquecer. Domingo passado, estava em casa quando ela me ligou. Matamos a saudade, colocamos a conversa em dia e depois de mais de 15 minutos de papo ela encerrou com a seguinte frase:

– Tá bom querida, só estou te ligando porque como sei que você não vai lembrar, quis falar com você hoje para o meu aniversário ficar completo.... Gritinhos, desculpas, muitas risadas, mais desculpas. Desliguei com o coração aquecido, ainda rindo com o som das gargalhadas de outro lado da linha, apenas mais um dos muitos motivos pelos quais amo minha amiga Maura

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