Coluna publicada na edição de 21/6/18 do Correio Popular
Portugal, Uruguai e Espanha confirmaram o favoritismo e venceram seus jogos de ontem contra Marrocos, Arábia Saudita e Irã. Todas as informações do parágrafo anterior estão corretas, mas se as mesmas seleções se enfrentassem novamente no final de semana, portugueses, uruguaios e espanhóis não entrariam em campo com o status de “favoritos”. Os três sofreram demais para derrotar seleções sem tradição. Em toda a história da Copa do Mundo, Marrocos, Arábia Saudita e Irã venceram, juntos, seis partidas. Os “favoritos” somam 66 triunfos. Em termos de tradição, como se vê, não dá para comparar. Também não comparação no que se refere ao valor de mercado dos atletas. Quantas temporadas El Ahmadi (meia marroquino do Feyenoord), Taremi (atacante iraiano do Al-Gharafa) e Abdullah Otayf (meia saudita do Al-Hilal) precisam disputar para receber o que Cristiano Ronaldo, Suárez e De Gea ganham em um mês no Real Madrid, Barcelona e Manchester United? Mas se não há comparação entre o peso das camisas e nem entre a qualidade dos atletas, por que os jogos foram tão difíceis? Não dá nem para falar que foi uma exceção ou um acaso porque os três favoritos sofreram e sofreram muito. E não foram os únicos. Muitos estão sofrendo desde o início da Copa. Outros ainda vão sofrer. A explicação para tanto equilíbrio entre desiguais é que as seleções menores aprenderam a se defender. Disputar uma Copa está entre os momentos mais importantes da vida de qualquer atleta. Os que se entregam de corpo e alma conseguem potencializar os efeitos de um sistema defensivo bem organizado. Ninguém vai ao estádio para ver um time retrancado, mas quando a diferença técnica é enorme, admiramos a extrema dedicação de uma equipe. Portugal ganhou porque tem um jogador excepcional. Uruguai e Espanha triunfaram em lances de oportunismo de seus artilheiros. Mas Arábia Saudita, Irã e Marrocos proporcionaram jogos com emoção e tensão até o apito final pela capacidade de seu conjunto. El Ahmadi, Taremi, Otayf e seus companheiros não vendem milhões de camisas e não causam nenhum impacto durante as janelas de transferências. Mas, juntos, deram enorme trabalho a estrelas de primeira grandeza. Os “pequenos” estão aprendendo a conter os gigantes. E os gigantes precisam reaprender a transformar sua enorme vantagem técnica em gols. Os que não conseguirem vão correr o risco de voltar mais cedo para casa.