Estados de São Paulo e Rio de Janeiro foram analisados e mil pessoas entrevistadas para entender a relação da sociedade com a doença
Pacientes com suspeita de dengue aguardam atendimento em hospital; entre paulistas e cariocas, 72% dizem na pesquisa que já tiveram proximidade com a enfermidade (Fotos: Janaína Ribeiro/Especial para a AAN)
A população demonstra pouco ou nenhum esforço para combater a dengue coletivamente e adotar novos hábitos. No entanto, entre paulistas e cariocas, 72% dizem que já tiveram proximidade com a dengue e a maioria se sente suscetível à doença. Isso é o que revelou o estudo “Eu amo minha cidade sem dengue”, feito pelo biólogo, entomologista e mestre em saúde pública João Paulo Correia Gomes, em parceria com a marca de inseticidas SBP, da multinacional anglo-holandesa RB (Reckitt Benckiser). O levantamento buscou identificar o conhecimento do público, o comportamento e a disposição para o combate à dengue. O estudo concluiu ainda que a dengue é vista como um problema pela população, mas é subdimensionada. A amostragem foi entre pessoas de 25 a 55 anos, metade homens e metade mulheres. Foram consideradas as classes sociais A, B, C e D. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro foram analisados e mil pessoas entrevistadas para entender a relação da sociedade com a dengue. Entre os pesquisados, apesar do medo da doença (92% se sentem suscetíveis), existe a consciência da responsabilidade em manter os locais limpos. 84% afirmaram no estudo que se responsabilizam pela situação vivida nos estados e 45% têm real preocupação com o problema. Apesar disso, nove de cada dez pessoas erraram ou não têm ideia do número de registros no País em 2014. O número, de acordo com o Ministério da Saúde, é de 591.080 mil casos confirmados durante o ano. Somente em Campinas, foram 41.218 pacientes confirmados com o vírus tipo 1 da doença, o que circulou na cidade e continua a ser transmitido em 2015. No comparativo entre os estados, os cariocas disseram que tiveram mais contato com a doença. No Rio de Janeiro, 82% dos entrevistados disseram ter contato com a dengue, diante de 56% dos paulistas. No Interior paulista e carioca, a tendência é a mesma: 68% e 82% disseram ter contato, respectivamente.DesconhecimentoA forma mais eficaz de diminuir a transmissão da dengue é eliminar possíveis criadouros do mosquito vetor da doença, o Aedes aegypti. Ele gosta de locais “artificiais”, úmidos, pequenos e escuros. Latas, pneus e calhas são bons exemplos de possíveis criadouros. No entanto, a pesquisa revelou que falta entre os entrevistados conhecimento do que é preciso fazer em relação à doença. No geral, 61% acreditam saber o mesmo que a média das pessoas. Isso muda quando a classe social ou o nível educacional é maior: nesse caso, as pessoas acreditam que sabem mais sobre a doença. Nesse contexto, os índices de conhecimento aferido são altos: 93% sabem que a transmissão ocorre pela picada do mosquito e 97% acertaram que a multiplicação do pernilongo depende de água parada e clima quente. A maioria também soube identificar o mosquito. No entanto, 54% erraram ou não sabem o período de maior atividade do mosquito adulto e apenas 12% acertaram que o mosquito adulto vive dentro das residências. Analisando apenas a classe A, que julgava entender mais da doença, os resultados são piores (59% não sabiam o período e 9% acertaram sobre o pernilongo adulto viver dentro dos imóveis).Focos O estudo também derrubou o mito de que, quanto maior a classe social, maior o engajamento no combate à dengue. A classe A obteve 12% de engajamento, enquanto a D e E alcançaram, juntas, 67%. Isso também valeu para a instrução: aqueles que têm Superior completos alcançaram 20% de engajamento, enquanto o Médio completo obteve 30%. O estudo identificou também que, apesar de realizarem ações de combate à dengue dentro de casa, outras ações coletivas, que vão além dos limites do domicílio, são mínimas. 94% afirmaram ficar atentos para não ter água parada em casa, mas apenas 10% monitoram os casos de dengue na região onde vivem. “Estamos preocupados. Não deixo mais vaso de planta exposto, coloquei protetor antimosquito em todos os quartos e salas. A piscina é tratada duas vezes por semana. Tem que tomar todo o cuidado possível”, disse a médica Lídia Strauss, de 65 anos. Ela mora próximo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para Lídia, medidas preventivas foram feitas pela Prefeitura, mas as ações têm que partir de toda a sociedade.