Trepidação com o tráfego de veículos pesados pode agravar rachaduras e comprometer igreja histórica, diz arquiteto; projeto para instalação é da Prefeitura
Área do Convívio, atrás da Catedral, onde seria construída estação: Condepacc já liberou a obra no local ( Leandro Ferreira/ AAN)
Projeto da Prefeitura de instalar uma estação de parada de ônibus padrão BRT atrás da Catedral Metropolitana de Campinas poderá comprometer a integridade do maior patrimônio cultural da cidade, que já sofre com rachaduras nas paredes de taipa provocadas pelo trânsito intenso na Rua José Paulino. O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) deu parecer favorável à consulta feita Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), mas a decisão preocupa o responsável pelo restauro do templo, Ricardo Leite. “Será preciso fazer obras complementares para garantir a integridade da Catedral, como a construção de um muro de arrimo enterrado para evitar que o prédio rache com o impacto dos ônibus”, disse. Ele afirmou que vai procurar a Emdec para ver o projeto e apresentar obras que considera necessárias para preservar a edificação, do século 19. O Condepacc deu parecer favorável à instalação de uma estação do BRT naquele local porque, segundo consta do projeto, ela será construída na calçada oposta à Catedral e terá pouco impacto visual, permitindo integração com o meio ambiente. De acordo com o projeto, os pavimentos atuais serão substituídos por pavimentação rígida em concreto armado para minimizar e amortecer de forma significativa os impactos e as trepidações causadas pela circulação dos ônibus. O intenso tráfego de veículos na Rua José Paulino vem provocando rachaduras nas paredes de taipa Há trincas em várias partes do prédio centenário e uma das varandas do presbitério precisou ser escorada para evitar que o bloco de taipa descesse. Mesmo assim, a janela já não consegue ser fechada. Embora não haja risco de desmoronamento, a grande movimentação de veículos está agredindo o maior patrimônio de Campinas. O ideal, afirmou, é que o trânsito fosse proibido na Rua José Paulino entre a Costa Aguiar e a 13 de Maio. O problema se agravou após a revitalização da Rua 13 de Maio, quando o trecho de rua no cruzamento com a José Paulino foi elevado para ficar no mesmo nível do calçadão. Com isso, surgiu uma valeta e, cada vez que passava um ônibus ou veículo mais pesado, havia uma pancada no solo que, embora consertado, ainda faz a Catedral vibrar. Na parte do prédio onde a taipa trincou e desceu fica o almoxarifado da Catedral. A vibração é tanta que, segundo os funcionários, os objetos guardados nas prateleiras constantemente acabam caindo no chão. “Temos trincas nas paredes com dois centímetros de largura”, disse Ricardo Leite. A varanda do presbitério foi escorada para evitar que a argamassa existente em cima da parede de taipa caísse e ficará provisoriamente. A área atrás do templo tem várias depressões no solo, resultado da compactação que vem ocorrendo ao longo dos anos. “Quando a rua surgiu, pedestres passavam por ela; depois, vieram as carroças, os carros, ônibus, caminhões pesados. Tudo isso foi provocando movimentações na rua, na calçada e também na Catedral”, afirmou o responsável pelo restauro. “Se querem fazer uma estação, então será preciso que esse muro seja construído”, disse o arquiteto. Reforma Os andaimes que cobrem a fachada da Catedral começaram a ser retirados com a conclusão da atual fase do restauro. A torre da igreja começou a ser pintada em amarelo e, em 30 dias, segundo previsão do responsável pelo restauro, Ricardo Leite, a fachada estará liberada. Mas ainda está longe a conclusão da recuperação das fachadas porque ainda falta conseguir captar R$ 4,3 milhões necessários à conclusão do projeto. A Arquidiocese conseguiu autorização do Ministério da Cultura, em 2012, para captar R$ 7,1 milhões para as obras, utilizando os benefícios da lei de incentivos fiscais (Lei Rouanet) e, desse total, obteve R$ 2,8 milhões, suficientes apenas para o restauro das fachadas. A fachada da frente do templo teve toda a argamassa trocada, os anjos foram restaurados e dois dos quatro evangelistas da fachada, recuperados.Os recursos obtidos até agora vieram dos bancos Itaú e Bradesco e das empresas de alimentação Ticket, Alelo, Sodexo e FMC. As empresas usaram a lei de incentivos fiscais, que permite a destinação para projetos de cunho cultural de 4% do Imposto de Renda (IR) devido por pessoa jurídica e 6% para pessoas físicas. A Catedral tem chances de obter os recursos que faltam com a venda do potencial construtivo do templo, mas a burocracia da Prefeitura está travando essa possibilidade. Para ir ao mercado vender o potencial, a Catedral precisa possuir o certificado de transferência de de potencial construtivo decorrente do tombamento (CPC-T). A Catedral já seguiu toda a tramitação exigida pela lei e espera os documentos — com eles, poderá usar em outra área, e até vender, os metros quadrados que teria direito de construir no terreno, caso a edificação que possui não fosse tombada.