MANUEL CARLOS

Políticos profissionais

05/11/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 10:37

O desinteresse da população, de maneira geral, pela atividade política e a má compreensão do que seja essa atividade é uma das mais graves deficiências de nosso tempo. A população contemporânea dissociou a sociedade do Estado, o econômico do político e o individual do social, e pensa que a atividade política é algo específico de um segmento da sociedade, profissionalizado para isso. Ser político virou profissão e o povo, geralmente, não dá crédito ou qualquer valor ao político. Uma professorinha de uma escola de bom nível resolveu perquirir seus aluninhos a respeito da profissão de seus pais. Joãozinho respondeu que seu pai era médico; Pedrinho disse ser filho de advogado e Paulinho afirmou que seu pai era um proxeneta, que explorava a prostituição em uma boate mambembe da periferia da cidade. A professora, constrangida, interrompeu a pesquisa mudando de assunto, mas ao final da aula, pediu que Paulinho permanecesse mais alguns instantes e, compadecida pela situação do menino, quis saber como ele se sentia por ser filho de um proxeneta. Paulinho esclareceu: eu menti professora, meu pai é político, mas eu fiquei com vergonha de contar. A desvalia do político entre nós foi bastante acentuada nas últimas décadas. O autoritarismo militar, na época do golpe, enquanto fazia política e só fazia isto, criminalizava a atuação política dos outros segmentos da sociedade e desqualificava a formação política dos brasileiros, proporcionando uma geração toda de pessoas apáticas e distantes da participação política. Nossos líderes atuais estão velhos e embolorados, demonstrando uma vontade perversa de atuar de cima para baixo, obstruindo os canais de participação e reprimindo quem deles divirja, na insensata crença de que dominação não consentida tem possibilidade de gerar a eles duradouros dividendos. Temos uma legislação eleitoral poeticamente democrática, mas perversamente autoritária e corporativa, que obstrui a participação de cidadãos de bem no mundo da política. A oportunidade de acabar com o continuísmo através das urnas está chegando, mas sem a necessária reforma política isto será muito difícil de acontecer. Viveremos um período eleitoral em que a autoridade máxima do País vai zombar da lei e da justiça eleitoral, mostrando a todos que temos uma Corte frouxa e submissa, que não consegue apurar o uso da máquina pública na campanha. Isto importará em negação mesma do sistema democrático de governo. A frouxidão incentiva a dominação presente sempre em todo detentor de poder.A sociedade precisa reagir, pois a característica marcante dos sistemas autoritários é que alguém tem a capacidade efetiva de evitar consequências políticas contrárias a seus interesses e isto é o que se tem verificado. É fundamental neste instante a reflexão de todos para evitar que aqueles que foram investidos no poder para servir, passem a servir-se do poder.

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