Policiais são acusados de tortura por adolescentes

Membros do Batalhão de Ações Especiais de Polícia Militar (BAEP) de Campinas foram acusados de lesão corporal e abuso de autoridade por três jovens envolvidos em uma ocorrência apresentada na 2ª Delegacia Seccional na noite de sexta-feira. A.S.J., um estudante de 21 anos foi abordado na tarde de sexta quando entrava na garagem de uma casa no bairro Jardim do Lago. Ele estava em um Voyage que havia sido roubado na noite de quinta-feira no Jardim Pacaembu. Outros três rapazes estavam no veículo e fugiram quando perceberam a aproximação dos policiais. A. foi detido e obrigado a entrar na casa junto com a polícia. Lá dentro estava os dois outros adolescentes que foram agredidos: uma menina de 14 anos e um garoto de 16. Os três relataram à Polícia Civil que foram agredidos com uma raquete de madeira pelos policiais. Segundo a Polícia Civil, o jovem acusado apresentava marcas de violência pelo corpo.  De acordo com a parente da menina, ela teria sido agredida com tapas no rosto e  raquetadas na cabeça, além da violência verbal. "Não vi o que aconteceu, mas ela estava muito assustada e continua com hematomas", disse o familiar.  Depois da sessão de agressão contra os adolescentes, os policiais do BAEP conduziram o estudante que dirigia o veículo para a delegacia. Os outros dois não foram apresentados nem como testemunhas do caso. A Polícia Civil só soube da existência deles porque ambos decidiram ir à delegacia denunciar a sessão de agressões. A vítima do roubo foi até o plantão policial, mas não reconheceu o rapaz detido como o autor do roubo. Após verificar uma foto no celular do jovem, identificou um outro adolescente como o que a rendeu e levou o carro.  Versão diferente Em depoimento reservado, A. deu uma versão totalmente diferente da apresentada pelos policiais sobre o acontecimento. Ele disse que não estava conduzindo o Voyage estacionado na garagem. Contou que estava como passageiro de um Gol parado do lado de fora da casa no momento da abordagem. Ele afirmou que foi agredido pelos policiais para confessar o roubo do Voyage. Os outros adolescentes afirmaram que o Voyage estava estacionado na garagem da residência, enquanto o Gol estava na parte de fora da casa. Eles também confirmaram as agressões, que teriam sido feitas com uma raquete de madeira que estava na casa. O objeto foi apreendido pela Polícia Civil, que encontrou fios de cabelo grudados na madeira e constatou que ela estava danificada.  PressãoUma fonte da reportagem afirmou que, durante todo o tempo em que a ocorrência foi apresentada, cerca de 25 policiais militares ficaram em frente à delegacia para "fazer pressão" contra os policiais civis que apuravam o caso.  A situação chegou a um ponto em que uma viatura do Garra (Grupo d), da Polícia Civil, foi acionada para garantir a integridade física dos plantonistas que registravam o boletim de ocorrência.  InvestigaçãoOs três jovens foram submetidos a exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) para constatar as lesões corporais. A raquete ficou apreendida.  A. foi liberado já que sua versão era consistente com o depoimento dos outros adolescentes que estavam na casa.  Outro ladoO caso foi enviado para conhecimento da Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo, para que o órgão tome ciência e adote as medidas adequadas. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, que afirmou que as investigações só podem ser feitas assim que a corporação receber a notificação do caso.