Segundo promotor que acompanha o caso, laudos importantes para o caso não estão prontos
A Polícia Civil de Campinas enviou nesta quarta-feira (12) à Justiça pedido de prorrogação do inquérito que apura a maior chacina da história da cidade, em que 12 pessoas foram assassinadas entre a noite do dia 12 de janeiro e a madrugada do dia 13, na região do Ouro Verde. A solicitação foi feita pelo delegado titular do Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), Rui Pegolo. A informação foi confirmada pelo delegado Seccional de Campinas, José Carneiro Rolim Neto. Até o final do mês, também deverá ser pedida a prorrogação por mais 30 dias da prisão temporária dos cinco PMs presos que estão no presídio da PM Romão Gomes, na Capital. O promotor Ricardo Silvares, membro do Ministério Público que acompanha as investigações desde o início, afirmou que o novo prazo é importante, uma vez que muitos laudos considerados "importantes" ainda não chegaram, como os de balística feitos nas cápsulas deflagradas encontradas nos locais dos crimes e nas armas de policiais militares. "Ainda há muito trabalho. Não tem como afirmar quanto tempo ainda será preciso para concluir as investigações. Tudo vai depender dos resultados desses laudos", afirmou. Força-tarefa Silvares também elogiou o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Polícia Civil de Campinas, que conta com uma força-tarefa de delegados e investigadores, além do apoio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoas da Capital (DHPP). "Está sendo uma investigação muito criteriosa, que tem o cuidado com a divulgação de informações. Tivemos grandes avanços, como no caso Joab. Agora, precisamos juntar provas que permitam relacionar os crimes" , declarou. Adriana Borgo, presidente da Associação de Familiares e Amigos de Policiais do Estado de São Paulo (Afapesp), disse, esta semana, que o jurídico da entidade já trabalha nos pedidos de habeas corpus para que os PMs aguardem a conclusão do inquérito em liberdade. Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) esclareceu que o delegado José Carneiro Rolim Neto, titular da Seccional de Campinas, informou que, até o momento, foram ouvidas 68 pessoas (entre elas, 18 policiais militares, incluindo os cinco que estão presos). Disse, ainda, que a prorrogação do inquérito policial não irá alterar os trabalhos. O caso continua sendo investigado pela Polícia Civil de Campinas, com o apoio do DHPP e da Corregedoria da Polícia Militar, e com acompanhamento do Ministério Público. A chacina A sequência de mortes começou às 20h30 do sábado, dia 12 de janeiro. O jovem Sadrack Santana Galvão, de 25 anos, foi morto a tiros no Residencial Sirius Pirelli. Às 21h30, o adolescente Joab Gama das Neves, de 17 anos, foi atingido por um tiro na cabeça após uma suposta fuga da PM. Ele estaria tentando roubar motoristas no Distrito Industrial. Os PMs presos são suspeitos de terem participado deste crime. Às 23h20, quatro jovens foram assassinados mortos no Recanto do Sol 2. Dez minutos depois, Jailson Costa Silva, de 28 anos, foi executado a tiros no Parque Universitário. Pouco antes da meia-noite, mais cinco pessoas foram mortas no Vida Nova. Já na madrugada do dia 13, por volta de 1h40, Sérgio Donizete da Silva Júnior, de 18 anos, foi morto a tiros no bairro Vista Alegre. Ao longo da investigação, a polícia praticamente descartou a primeira morte da lista da chacina. O assassinato do jovem Joab teria sido o início das execuções em série.Dois possíveis sobreviventes também estão na lista. Um deles segue internado em estado grave na UTI do Hospital Celso Pierro. Ele foi atingido por quatro tiros no DIC V, no mesmo período da chacina. Uma das hipóteses investigadas é de que os crimes tenha sido uma represália à morte de um PM, assassinado com um tiro na cabeça na manhã do dia 12, durante um assalto. Missa lembra vítimas da chacina Familiares e amigos de dois jovens que morreram na chacina do Ouro Verde participaram nesta quarta-feira de um missa para lembrar as 12 vítimas dos crimes em série. O encontro religioso aconteceu na Paróquia Dom Bosco, no Vida Nova, onde foram assassinados Daniel Vitor da Silva e José Ricardo Grigolo, ambos de 20 anos; Rodinei Manuel, de 27 anos; Gustavo de Souza Moura, 21 anos; e Diego Dias Coelho, 24 anos. Para a família de Diego, a missa foi ainda mais emocionante. Hoje, o jovem estaria completando 25 anos. Ele deixou esposa e uma filha de 7 anos. Após um mês dos crimes que mataram seu filho, Zilda Dias da Silva, desabafou e pediu mais agilidade das autoridades policiais. "Essa é a nossa homenagem para eles. Não só para o meu filho, mas para os outros também." Revolta Para ela, o sentimento de revolta ainda está presente em todos os familiares. "Não acharam o culpado ainda porque não querem. Porque provas têm um monte", criticou. Também participaram da celebração o casal José Wilson Moura e Conceição de Sousa, pais do jovem Gustavo. "Eu espero justiça. Meu filho nunca teve passagem pela polícia. Era um menino trabalhador. Só saudade, agora", disse a mãe, bastante emocionada. Naquela noite, Gustavo tinha acabado de deixar a namorada no terminal do Vida Nova e voltava para casa quando foi executado. "Quem deveria dar proteção tirou a vida dos nosso filhos", declarou, sobre a suposta participação de PMs nos assassinatos.