LÍQUIDO & CERTO

Podre de rica

Suzamara Santos
23/09/2013 às 11:06.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:38

Em qualquer cultura de frutas, a Botritys cinerea é chamada de podridão cinzenta. Mas em uvas viníferas, quando cultivadas naquelas meia dúzia de regiões abençoadas, o fungo é chamado de podridão nobre. O codinome combina perfeitamente. Ao atacar a planta, a botritis (grafia aportuguesada) rompe a casca das uvas, provocando sua desidratação. A aparência, com uma película semelhante a cinza por cima, justifica o substantivo “podridão”. E o que sobra do bago justifica o adjetivo “nobre”. Ao perder água, concentram-se sabor, doçura, caráter. E com essas uvas feias produz-se magníficos vinhos de sobremesa, alguns merecedores de distinções como “néctar dos deuses”, “bebida de contemplação”, “elixir dos anjos”, “ouro líquido”... Enfim, não faltam frases de efeito para demonstrar a qualidade que alcançam. Vamos esquecer, portanto, a devastadora filoxera, que contaminou este espaço na semana passada, e falar do ataque do bem. Para a botritis visitar um vinhedo é preciso combinar antes com a natureza. A equação climática favorável ao seu aparecimento envolve precipitação pluviométrica, umidade relativa do ar, temperatura e o surgimento de uma névoa no momento “x” da semana “y”e da fase “z” de desenvolvimento da uva. Vez por outra, fala-se de vinícolas que conseguiram “salpicar” botritis artificialmente sobre os vinhedos com bons resultados. Mas aí é mais uma questão de fé do que realidade. Os poucos lugares do planeta em que o soberbo fungo dá o ar da graça sobre vinhas são França (sempre ela); Hungria, berço dos dulcíssimos Tokai; Alemanha, onde são produzidos os Trockenbeerenauslese (TBA) e mais um ou outro pontinho no mapa da Europa.O mais famoso deles e, muito provavelmente, o menos experimentado, é o Château D’Yquém, um puro-sangue da região de Sauternes (Bordeaux), onde a botritis costuma passar férias com frequência. Se custa caro? Uns R$ 3 mil, de uma boa safra. Porém, como são vinhos longevos que viram fácil a marca de cem anos, o preço pode multiplicar exponencialmente com a idade. É preciso lembrar ainda que se o vinho é feito com uvas desidratadas, praticamente passificadas, a produção é menor, o que significa preço mais alto.Mas Sauternes, onde vicejam as uvas sémillon, sauvignon blanc e muscadelle, não vive só de D’Yquém. Rótulos bem mais acessíveis satisfazem plenamente o desejo de experimentar um botritizado verdadeiro. Château Des Compéres, Château Lamoth Guinard e Château Filhot são alguns exemplos. Saindo da França, a parada obrigatória é na Hungria, onde os Tokai (ou Tokaji) esbanjam a doçura da furmint, a principal uva de lá, com um sistema de concentração de açúcar informado no rótulo pelo número puttonyos (de três a seis). Quanto mais puttonyos mais doce e nobre, mas não precisa sair de três para conhecer um bom Tokai. Por fim, vale uma visita à Alemanha, ainda mal explorada pelos apaixonados por vinho. Os Trockenbeerenauslese somam a mineralidade natural da riesling, a grande uva do país, aos traços de mel, avelã e frutas secas típicos da botritis. Saúde!Barbacoa Campinas promove Festival Vinhos e SaboresO Barbacoa Campinas e a importadora Ravin promovem nesta terça-feira, às 19h30, o Festival Vinhos e Sabores. O sommelier da casa, Antonio Raimundo Cosmo, abre a noite com degustação de 12 rótulos da vinícola chilena Valdivieso. A seleção inclui o Caballo Loco Grand Cru Apalta (R$ 216), o Caballo Loco Grand Cru Maipo Andes (R$ 216) e o Caballo Loco no 13 (R$ 299). Na sequência, às 21h30, será servido um jantar com cardápio recomendado pelo sommelier, composto de arroz de carreteiro e bife de chorizo. Os convites, limitados a 60 lugares, custam R$ 180 (antecipado) e R$ 200 (na hora). Deste valor, R$ 45 podem ser convertidos em bônus para a aquisição de vinhos degustados na adega do restaurante. O Barbacoa Campinas fica no Parque D. Pedro Shopping, Entrada das Águas. Informações: (19) 3209-1641.

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