Emdec estuda a viabilidade do uso de leitos desativados para retomar o VLT na cidade
Estação do veículo leve sobre trilhos (VLT), na Vila Aurocam: sistema foi usado até 1995 (Elcio Alves/AAN )
A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) iniciou estudos para analisar a viabilidade técnica e econômica de usar os leitos ferroviários desativados existentes na cidade para o transporte coletivo de massa sobre trilhos. Na prática, significa que a Prefeitura já trabalha com a hipótese de ressuscitar o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que circulou entre 1990 e 1995 e fracassou na tentativa de dotar a cidade de um sistema alternativo de transporte — o que significou um desperdício de US$ 120 milhões, gastos nos trilhos e nas estações, algumas das quais nunca chegaram a funcionar.
O secretário de Transportes, Sérgio Benassi, disse que a discussão sobre o VLT não deve ser “contaminada pelo que ocorreu no passado”. “O VLT é uma excelente solução, desde que seja integrado aos demais modais de transportes, que seja planejado, discutido com a cidade e com projetos técnicos viáveis.”
Segundo ele, a cidade tem que começar a pensar na retomada do transporte coletivo público por ferrovia, porque não irá demorar muito para Campinas parar. “Temos que ter um planejamento com o olhar para os próximos 20 anos. Hoje, estamos trabalhando com BRT, que é transporte de média capacidade, mas logo ele também não dará conta”, afirmou.
Mais conhecido pela denúncia de irregularidades na contratação da obra (superfaturamento e licitação viciada) do que pelos benefícios que trouxe à população, o VLT nasceu da tentativa do ex-governador Orestes Quércia (PMDB) de cooptar o prefeito Jacó Bittar, então recém-saído do PT. O projeto esbarrou em “dificuldades técnicas” que as seguidas liberações de recursos não conseguiram contornar.
O secretário lembrou que, ao contrário de outras cidades, Campinas tem muitos dos leitos ferroviários desativados preservados. No passado, a cidade teve a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, que sai da Estação Guanabara rumo a Minas Gerais; a Companhia de Estrada de Ferro Sorocabana, que ia para Indaiatuba; a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que liga Campinas a São Paulo e ao Interior; o Ramal Férreo Campineiro, que ia até Sousas/Joaquim Egídio; e a Funilense, que ligava Campinas a Cosmópolis.
A cidade tem 120 quilômetros de leitos ferroviários dentro do município, com 654 metros quadrados de área útil para oficinas e manobras. Os leitos conectam o Centro aos principais bairros e aos principais municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Mas tudo isso é espaço de abandono. O Plano Diretor de Campinas de 2006 definiu pela preservação dos leitos férreos desativados para transporte de passageiros, local turístico ou lazer e também orientou o reestudo do sistema VLT, analisando alternativas de traçado de localização das estações e integração plena ao sistema por ônibus.
O único trecho ativo, disse o historiador e especialista em ferrovias, Henrique Anunziatta, é o da Paulista. O restante está ocupado, invadido, com construções em cima. O uso desses trechos para o transporte não será fácil, afirmou. “Tudo o que tem em cima dos leitos e nas áreas de domínio é irregular e será necessária muita articulação para tirar as pessoas de onde estão”, disse.
Tendência
Várias cidades estão retomando projetos de implantar o metrô de superfície como solução para o transporte coletivo de massa. Maceió tem uma rede de 32 quilômetros em funcionamento; em Cuiabá os 22 km de trilhos estão em implantação, assim como 30 km em Recife. Fortaleza tem 25% das obras executadas, os 52 km de Natal estão em construção, em Goiânia e Santos estão em licitação.
Mas há também problemas: em Macaé (RJ) foram comprados dois trens, mas a obra não saiu do papel e o prometido veículo leve sobre trilhos de Brasília deveria ser um dos cartões-postais da capital federal para receber a Copa do Mundo de futebol de 2014, mas tornou-se o oposto disso. Quatro anos depois de ter as obras iniciadas, o pouco do projeto que conseguiu sair do papel transformou-se em um monumento à burocracia e ao descaso com o dinheiro público.
Vantagens
A implantação de transporte coletivo de massa sobre trilhos tem o apoio de especialistas em transportes que veem na modalidade o futuro da mobilidade urbana. O VLT, segundo o diretor da Associação de Transporte Público (ATP), José Renato Arouch, é um sistema ambientalmente correto que oferece maior conforto, segurança e qualidade de vida para os usuários do transporte coletivo. “O sistema melhora a qualidade de vida da população, melhora o deslocamento urbano, melhorar a eficácia dos serviços de transporte por meio de integração entre diferentes meios de locomoção, reduz o fluxo de veículos individuais e moderniza o transporte, beneficiando diretamente toda a população”, afirmou.
As cidades estão, no momento, em um debate entre escolher o BRT, que é a versão mais rápida do ônibus convencional, e o VLT, a versão mais leve do pesado metrô. Os dois têm vantagens e desvantagens, disse o especialista em transporte sobre trilhos, Onério Cristalia. O BRT, disse, é mais barato para ser implantado — custa R$ 30 milhões por quilômetro, enquant o VLT custa R$ 60 milhões por quilômetro de trilho.
Ele lembra que a implantação do BRT é mais rápida e simples e pode ser feita em dois anos e meio, enquanto o VLT leva pelo menos seis anos. Mas o veículo sobre trilhos polui menos porque é movido à energia elétrica, enquanto o BRT usa diesel. O impacto de desapropriação é o mesmo, porque ambos circulam em corredores. O VLT ganha de longe na capacidade de transporte — leva cerca de 500 pessoas, enquanto o BRT leva 270.