CAMPINAS

Pichações pioram cenário de degradação

Vândalos ampliam depredação de imóveis que já sofrem com a falta de política de preservação

Luciana Félix
luciana.felix@rac.com.br
15/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 19:17

Pichações tomam contra de prédios e muro em toda a região Central de Campinas (Camila Moreira/ AAN)

A pichação é um dos principais causadores da degradação dos prédios públicos e privados do Centro de Campinas. Uma rápida volta pela região permite constatar que o problema se espalha pela maioria das ruas e tipos de prédio. Nem os lugares mais altos e de difícil acesso escapam da ação dos vândalos. As sete “antimaravilhas” eleitas pelos leitores do Correio há pouco mais de duas semanas como símbolos da deterioração da área sofrem com pichações dos mais variados tipos e estilos. A fiscalização do ato de pichar muros e fachadas, que é crime, é responsabilidade da polícia e também da Guarda Municipal. Mas a manutenção dos prédios atingidos pelos criminosos, segundo a Prefeitura, depende apenas da vontade de seus proprietários. A atual administração não tem nenhum plano imediato para incentivar ou fomentar a recuperação das fachadas pichadas. Além de que muitos proprietários desistiram de pintar suas fachadas porque é quase certo de que o local será novamente alvo das latas de spray. Além da pichação, a falta de manutenção dos imóveis também contribui para que eles sigam feios e com aspecto de abandono — fatores que degradam o Centro como um todo.   Dominante na paisagem   É praticamente impossível caminhar pelo Centro sem perceber as pichações. Elas dominam prédios, de todos os tamanhos, e principalmente, em vias de grande fluxo de pessoas e veículos. Estão espalhadas em imóveis de avenidas como Francisco Glicério, Campos Salles e Moraes Sales. E ruas como a Benjamin Constant, Senador Saraiva, Conceição e Barão de Jaguara. Mas não só os imóveis são alvo desse tipo de ação. Praças, monumentos históricos, placas informativas e de sinalização e até mesmo árvores são constantemente pichadas.   O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) estima que todos os monumentos históricos da cidade já tiveram de ser restaurados por esse motivo. O valor do restauro é bem alto, e fica em torno de R$ 150 mil. Já a pintura de recuperação predial custa cerca de R$ 12 mil. A desvalorização de um imóvel pichado pode chegar a 10%. A pichação não fica restrita apenas a área central. Ela também se estende para outros bairros como Vila Industrial, Taquaral, Cambuí e Guanabara, entre outros.   Combate   No ano passado o prefeito Jonas Donizete (PSB) afirmou que iria “endurecer” com ações em relação a atos do tipo, mas até agora nada ocorreu. A promessa é que com a revitalização da Avenida Francisco Glicério (que começa no dia 23) a Administração aperte o cerco contra o ato de vandalismo.   O comerciante Aldo da Silva perdeu as contas de quantas vezes mandou pintar a fachada de sua loja. Há um ano, desistiu e se “acostumou” aos rabiscos feitos por um grupo de pichadores. “Já coloquei placa educada pedindo para não picharem. Não tem jeito, eles não respeitam.”   Para a aposentada Maria de Lourdes Sousa, de 78 anos, que vive no Centro há cerca de 30 anos, é lamentável o estado de degradação da área. “Os prédios antigos eram muito bonitos, arrumados e bem pintados. Agora, além de estragados, estão rabiscados. Sinto pena.”Impacto negativo   Foto: Camila Moreira/ AAN Nem a altura impede os pichadores de deixarem suas marcas A situação degradante causada, principalmente, pelas pichações, também preocupa o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração Imóveis (Secovi). “Além de ser um problema de poluição visual, é muito preocupante. O proprietário que tem o patrimônio afetado pinta e tem que pintar novamente. É enxugar gelo. As pichações causam má impressão visual, ninguém aluga ou compra prédio pichado porque dá uma sensação de insegurança. Isso dificulta bastante”, afirmou o diretor da entidade, Rodrigo Coelho de Souza.   Ele explicou que existe uma disputa entre os grupos de pichadores. “O que vale é aparecer. Esses grupos disputam entre si, e locais com maior circulação de pessoas e de visibilidade são os preferidos, como o Centro. Além de locais de maior dificuldade, é uma competição”, explicou. Para ele, falta preocupação das autoridades em aplicar leis mais fortes. “Nossa legislação é muito fraca, além de ser um atentado contra o patrimônio e contra a população em geral. É preciso mais fiscalização e a punição deve ser mais dura.”   É crime    Segundo a Polícia Civil a pichação de edificações ou monumentos urbanos é crime ambiental (lei federal), com pena de detenção que pode variar de três meses a um ano, além de multa. Se o autor da pichação for pego, ele é levado até a delegacia, onde assina um termo e responde em liberdade pelo crime. Já se a pichação flagrada pela polícia for em prédio público, o caso fica mais grave.   Ele passa a ser considerado dano qualificado, artigo 163 do Código Penal. O autor é preso em flagrante e uma fiança é arbitrada pelo delegado. Se o valor for pago pelo pichador, ele também pode responder pelo crime em liberdade e a pena pode variar de um a seis meses de detenção ou multa.   Já os adolescentes que são pegos pichando são encaminhados ao juiz da Vara da Infância e Juventude, que estipula uma medida socioeducativa, e liberados aos pais ou responsáveis. A orientação da Polícia Civil é que todas as pichações sejam formalizadas nos distritos policiais para que sejam investigadas.     Uso de redes sociais   Muitos grupos de pichadores parecem não se preocupar em se expor em redes sociais e sites. Eles desafiam a polícia com postagens de fotos no Facebook e até com vídeos de apologia ao ato com fotos dos participantes e suas ações. Um dos vídeos que pode ser visto no YouTube, com o título “Os pixadores (sic) de Campinas 2014 os RGS”, foi colocado no site em fevereiro do ano passado e teve 3.842 visualizações até a tarde da última sexta-feira (13).   Foto: Reprodução Grupos usam as redes sociais para divulgarem onde agiram     O vídeo de pouco mais de quatro minutos mostra fotos dos alvos dos pichadores — entre eles um trem de carga —, os autores em grupos com latas de spray e durante as pichações. O vídeo também mostra frases dos próprios pichadores: “Pichar é errado, errar é humano, somos humanos por isso pichamos” e “Antes de criticar um pichador verifique se seu filho está em casa.” O vídeo tem também comentários de apoio ao ato.   Definir estratégias   No Facebook, uma comunidade chamada “Semlimits Lek” tem 1.180 amigos e abriga centenas de fotos de áreas pichadas em Campinas. A rede social se tornou estratégia utilizada por grupos para divulgar as ações de vandalismo em estabelecimentos comerciais, igrejas, escolas, muros de prédios públicos e de edificações particulares. Em perfis, os jovens identificados com apelidos postaram ao menos 400 fotos em que aparecem fazendo a pintura nos muros. As imagens receberam vários comentários, entre mensagens de apoio e outras de repúdio. Como as redes sociais não fornecem informações sobre a autenticidade, a maior dificuldade da polícia é identificar os vândalos.   Flagrante difícil  O secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e de Turismo, Samuel Rossilho, informou que o maior problema do município com pichações está relacionado à dificuldade de flagrar essas ações. A maioria acontece em períodos noturnos e em locais que quase não há movimentação. “O problema é flagrar quem faz isso, e não a punição. É preciso criar situações para aumentar o poder de monitoramento por meio de câmeras nas principais vias”, afirmou. Ele insistiu que a tecnologia é a melhor saída para barrar esses problemas. “Com as câmeras conseguimos aumentar a fiscalização.” Ele afirmou que a punição que vigora é suficiente para barrar a ação. “Ter ficha suja por pichação é o suficiente para muitos jovens, que são a maior parte dos autores de atos do tipo. O problema é que eles sabem que existe uma fragilidade para o flagrante e por isso não se preocupam, agem na maior tranquilidade. Para eles, o ato é uma disputa. É adrenalina entre os grupos. A nossa dificuldade é encontrar quem faz isso e o problema não é a legislação ser fraca.” Atuação Foto: Cedoc/RAC Nem os monumentos históricos escapam da ação do vandalismo     O Comando de Policiamento do Interior — 2 (CPI-2) da Polícia Militar afirmou que atua com o policiamento ostensivo em regiões de maior circulação. Ao se deparar com situações do tipo, os acusados são detidos e conduzidos à delegacia.  A GM informou que além de patrulhamento para evitar atos de vandalismo em espaços e equipamentos públicos, também realiza ações educacionais em escolas da rede municipal com o objetivo de orientar crianças sobre questões como cidadania e conservação do patrimônio. A intenção da Prefeitura, segundo o chefe da pasta, é aumentar a vigilância, após a revitalização da Avenida Francisco Glicério, prevista para começar em 23 de fevereiro. “Com as alterações no visual, que consiste na pintura de fachadas, a intenção é tentar aplicar o uso de câmeras de segurança, além de um aumento na vigilância por parte da GM.” Revitalização A revitalização da Glicério prevê o enterramento da fiação, na mudança das calçadas, das bancas e da iluminação e que eliminará uma faixa de trânsito da principal avenida da cidade. Além da via, o projeto de revitalização seguirá para a Avenida Campos Sales em 2016. “O projeto já está pronto. É o mesmo processo de aterramento de fio e revitalização das fachadas, dos imóveis. Também temos em vista a construção de um estacionamento vertical no Centro, construção de banheiros públicos em diversos pontos das principais avenidas. Isso vai valorizar a área, onde as principais vias se tornaram grandes boulevares. Temos a intenção de trazer potenciais construtivos de residências para a área.”

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