PASQUALE CIPRO NETO

Pedir, expedir...

11/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 02:25

Nas últimas semanas, falamos da origem de alguns nomes de santos, entre os quais o de Santo Expedito. Como vimos, “expedito” é o particípio do verbo latino “expedire”, que, ao pé da letra, significa “desembaraçar os pés”. Em “expedir” temos o elemento latino “ex-” (que indica idéia de “movimento para fora”) e a raiz latina de “pé” (“pedis”). “Expedito” significa “rápido”, “diligente”, “que desempenha tarefas com rapidez” etc.E qual é o significado literal de “impedir”? Nesse verbo, temos dois elementos latinos: “in-” (com valor negativo) e o mesmo “pedis” de “expedir”. Ao pé da letra, “impedir” significa “não deixar andar”, “dificultar a locomoção”, “bloquear” etc.Pois bem, como se vê, “impedir” não é a negação de “pedir”, ou seja, não significa “não pedir”, mesmo assim sua conjugação segue a do verbo “pedir”: “eu peço/impeço”, “que eu peça/impeça” etc. Também seguem a conjugação de “pedir” os verbos “expedir” e “despedir”: “eu peço/expeço/despeço”, “que eu peça/expeça/despeça” etc.Se lermos o poema “A Jesus Cristo Nosso Senhor”, de Gregório de Matos, poeta brasileiro que viveu de 1633 a 1696, encontraremos esta passagem: “Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado / Da Vossa alta clemência me despido”. Que é “despido”? Sinônimo de “nu”? Não, caro leitor. Veja o que diz Evanildo Bechara, em sua “Moderna Gramática Portuguesa”: “Pedir serve hoje de modelo para desimpedir, despedir, expedir e impedir, que não são derivados de pedir”. “Pedir” vem do latim “petere” (de cuja família fazem parte tantas das nossas palavras, como “ímpeto”, “competir”, “apetite” etc.).O que se vê, afinal, é que a forma de “despedir” (“despido”) empregada por Gregório de Matos não corresponde à que hoje é considerada padrão (ou “exemplar”, como diria Bechara). Essa passagem é mais uma das tantas que mostram e comprovam os constantes movimentos das línguas. O que um dia foi “certo” um belo dia pode passar a “errado”. O “chefe” disso tudo é o uso (em se tratando de língua culta, é claro que o “chefe”, no caso, é o registro formal da língua).Feitas essas considerações, vamos às flexões consideradas exemplares no português culto de hoje dos verbos “pedir”, “expedir” etc. A conjugação desses verbos é irregular apenas nos presentes (o do indicativo e o do subjuntivo). No presente do indicativo, o verbo “pedir” apresenta estas formas: “eu peço, tu pedes, ele pede, nós pedimos, vós pedis, eles pedem”. Posso perguntar-lhe, caro leitor, como você leu a forma “pedis” (de “vós pedis”)? Não leu com força no “e”, não? A força está no “i”. Leia “pedis” como você lê “rubis”, “sacis”, “caquis”, “abacaxis” etc.Como fica então o presente do indicativo dos verbos “expedir”, “impedir” etc.? Basta seguir a conjugação de “pedir”: “eu expeço/impeço/despeço”. Na segunda pessoa do plural, temos, então, as formas “vós expedis/impedis/despedis”, que são oxítonas, o que significa que todas devem ser lidas como se leem as palavras “abacaxis”, “colibris” etc.

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