Véspera de feriadão, fim de tarde, e presenciei uma cena de total imprudência protagonizada por dois jovens motoristas. Dirigiam, com certeza, a mais de cem quilômetros horários e setenta metros adiante de onde eu estava o primeiro deles, montado em um Audi blindado, chocou-se de frente com uma Captiva, que transitava tranquilamente em sua mão de direção. A jovem senhora da Captiva foi abençoada por Deus e pelo air bag, sofrendo apenas ferimentos leves. Quem levou a pior foi seu cachorrinho, que não tinha cinto de segurança e nem air bag. O Samu chegou após 40 minutos e, mesmo informado pela vítima de que tinha convênio médico, o atendente lhe disse que a levaria para um pronto socorro municipal. Orientação idiota, pois pagamos plano de saúde para termos um atendimento melhor. Vítima socorrida e o atendente do Samu resolveu cuidar de coisas que não lhe diziam respeito. Aproximou-se do motorista causador do acidente e aconselhou que fosse embora e depois registrasse um Boletim de Ocorrência. Sem acreditar no que ouvia, perguntei a ele se estava aconselhando que ele fugisse do local. Respondeu laconicamente: enquanto a polícia não chegar eu sou a autoridade aqui. Duas horas depois, chegou a polícia. Dezenas de testemunhas contaram ao policial que o Audi blindado e uma BMW bacana que vinha atrás dele estavam em altíssima velocidade. O experiente policial perguntou ao jovem: você bebeu? O rapaz respondeu prontamente: não bebi nada.Concluiu então o policial: Você vai fazer o bafômetro? Não vou fazer, respondeu o jovem. Na minha cabeça de advogado estávamos diante de fatos que certamente levariam a uma prisão em flagrante. Alta velocidade testemunhada por dezenas de pessoas, recusa em submeter-se ao teste e um acidente na contramão de direção com vítima. Afinal, qualquer motorista parado em uma blitz rotineira, quando se recusa a fazer o bafômetro, é conduzido à delegacia para avaliação. Nem o policial militar e nem o delegado plantonista quiseram lavrar o flagrante. Prevaricaram? Acredito que não, pois faltava ainda um requisito não preenchido. Os jovens não eram pobres, nem pretos e nem putas. O advogado do rapaz sustentou que o acidente foi motivado pelos carros regularmente estacionados a setenta metros do local. Isto não é defesa, mas sim acusação. Apenas demonstra a altíssima velocidade desenvolvida por seu cliente. Na realidade, o imprudente motorista teve muita sorte. A vítima não morreu e dirigia uma Captiva. Fosse um caminhão basculante no sentido contrário e a mamãe tão solidária do jovem estaria chorando por ele.