Fachada côncava e espelhada da Prefeitura também pode irradiar calor da luz do sol
O físico José Lunazzi na Prefeitura de Paulínia: sensação de "sauna" (Janaína Maciel/AAN)
O pesquisador do Instituto de Física da Unicamp José Lunazzi alerta que o prédio da Prefeitura de Paulínia, na Avenida Prefeito José Lozano Araújo, no Parque Brasil 500, tem uma fachada semelhante à do prédio de Londres que, com o reflexos do sol em sua fachada de vidro, está derretendo carros, quebrando vidros e até permitindo que as pessoas fritem ovos na calçada.Tal como a construção na cidade inglesa, a fachada do prédio de Paulínia tem um desenho côncavo. O físico especializado em ótica explicou que o formato côncavo faz com que toda a energia recebida dos raios solares que incidem na superfície espelhada se concentre em um ponto. Esse ponto, disse Lanuzzi, concentra todo o calor, e varia de acordo com a posição do sol. “Aqui não há nenhuma estrutura na região onde incide a maior parte da energia, mas podemos ver uma faixa no chão mostrando uma região mais clara”, disse o físico.No caso de Londres, o calor refletido é muito maior que o de Paulínia, já que o prédio de lá tem 37 andares e uma superfície maior absorvendo o calor. Em Paulínia, a superfície é menor e, portanto, o calor gerado pelo reflexo também. Não é possível fritar um ovo, mas ficar parado no local onde o espelho reflete o calor não é uma experiência agradável. “Não dá para ficar muito tempo parado aqui sem se sentir em uma sauna”, brinca o pesquisador.Se carros estivessem estacionados no local ou se houvesse uma construção à frente, poderia haver danos em dias mais quentes. “Venho sempre ao teatro e observo essa fachada. Por sorte um dos pesquisadores do Laboratório de Óptica (da Unicamp) é de Paulínia e havia comentado sobre isso”, explicou o físico.Lanuzzi, que é uma autoridade no estudo de espelhos e ótica, contou que apesar de não haver risco de acidentes como os de Londres no local, o uso de espelhos reflexivos deve ser evitado em áreas de grande concentração de casas e pessoas. “O reflexo do sol nos olhos por tempo prolongado pode provocar queimaduras na retina. É preciso usar de forma comedida esses espelhos para que não atrapalhe os vizinhos”, afirmou. Além do incômodo na visão, eles podem transferir calor para outros locais, causando problemas.O físico esteve ontem no local e verificou que o reflexo gerado pela fachada não atinge nenhum imóvel ou veículo. “Não há risco de acontecer acidentes como os que ocorreram lá, mas nesse ponto onde incide todo o reflexo, o calor é muito grande”, contou. A faixa de incidência dos raios desbotou o piso. Esses locais mudam de acordo com a posição do sol e a intensidade dos raios solares. “Esse lugar é muito interessante para que professores façam in loco estudos sobre espelhos e ótica. Aqui os alunos conseguem ver na prática a teoria”, completou.A Prefeitura de Paulínia foi procurada pela reportagem, mas não comentou o assunto.Atração turísticaO edifício de Londres (foto) tem 37 andares e está em fase final de construção. Ela faz com que a luz se concentre em alguns pontos das ruas circundantes e chegou a provocar um pequeno incêndio num salão de cabeleireiro, além de ter derretido o espelho retrovisor de um Jaguar. O local virou atração dos moradores da capital inglesa, que chegam a fritar ovos em frente à construção. A construtora Land Securities, responsável pelo edifício, comprometeu-se a realizar as reparações necessárias e a reavaliar o projeto arquitetônico para suspender a ocorrência dos fenômenos óticos. A torre, apelidada de Walkie Talkie, está avaliada em cerca de 200 milhões de libras (234 milhões de euros). Para remediar o problema, um andaime temporário de cobre foi instalado em frente ao edifício.