Plantonistas da cidade receberão R$ 3 mil se atenderem ao menos quatro pacientes por hora
Hospital Municipal de Paulínia: médico terá recompensa por atendimento rápido (Gustavo Tilio/Especial para AAN)
A Prefeitura de Paulínia vai premiar os médicos e cirurgiões dentistas plantonistas da rede ambulatorial de saúde e do Hospital Municipal com R$ 3 mil caso consigam realizar, no mínimo, quatro atendimentos ou procedimentos médicos em um prazo de uma hora.
De acordo com o secretário de Saúde do município, Ricardo Carajeleascow, o objetivo da medida é fixar os médicos na cidade e oferecer um melhor atendimento à população. Cerca de 330 profissionais poderão ser beneficiados e os custos previstos aos cofres públicos devem chegar a 12 milhões por ano. A medida é rejeitada pelos pacientes e por entidades como o Conselho Regional de Medicina.
A proposta é similar à também aprovada em Monte Mor, onde a gratificação será de acordo com o número de atendimentos e o pagamento do bônus pode chegar a 50% do salário base.
Em Paulínia, o projeto de lei de autoria do Executivo foi aprovado e deverá ser publicado esta semana, mas será pago retroativo a 1 de março e, na prática, já está valendo. A medida vale para todos os médicos e dentistas da rede municipal já que todos eles são contratados como médicos plantonistas, mesmo quando prestam serviços em unidades básicas. O projeto diz que “o critério a ser adotado encontra-se dentro dos padrões aceitos pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).”
Não foi fixado um limite máximo de atendimento. “O médico vai receber a partir de quatro pacientes. Hoje, dependendo da especialidade, como clínica geral, pediatria, os médicos já atendem essa média. O que queremos é ir aumentando devagar a produtividade”, afirmou o secretário. Também foram criados alguns critérios como pontualidade, colaboração com a equipe.
“Os critérios não foram criados para excluir, mas para incluir aquele profissional que colabora na produtividade. Se ele atender quatro já está bom.” Ao final do mês, será feita uma média com a quantidade de atendimentos feitos e cumprimento dos critérios. Os chefes diretos apontarão os profissionais aptos a receberem o prêmio.
Segundo Carajeleascow, a cidade tem um déficit pequeno de médicos, mas a maioria dos profissionais trabalha em jornada reduzida devido ao baixo salário. Dos 150 médicos aprovados em concurso no ano passado, apenas 12 aceitaram o trabalho. “A Região Metropolitana de Campinas chega a pagar R$ 82,00 a hora do médico (média). Paulínia paga R$ 52,00”, afirma. O médico recém-contratado com uma carga horária de 24 horas semanais recebe R$ 6 mil com os benefícios. Com o prêmio, o salário passará a R$ 9 mil. O rendimento dos dentistas é igual.
O Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremesp) nega que o CRM ou a OMS preconizem números de consultas por hora. A conselheira Sílvia Helena Mateu diz que o tempo de atendimento varia de serviço para serviço. “O atendimento tem que ter um tempo suficiente para o médico conseguir fazer a consulta completa do paciente.
Avaliar a história clínica, realizar os exames físicos, prescrever, orientar paciente sobre medicação e cuidados, fazer raciocínio clínico. O médico tem que ter tempo necessário para isso”, afirmou. Ela ressaltou que a bonificação por produção sempre prejudica a qualidade do atendimento. “Pode até ter um salário fixo e a bonificação, mas é importante ter um indicador de qualidade.”
Pacientes
Os pacientes estão preocupados. A dona de casa Eva Teixeira, de 34 anos, que passou quatro horas esperando por atendimento no hospital de Paulínia, e não passou mais do que 15 minutos na sala do médico, acredita que a qualidade deve diminuir. “Os médicos estão lá para fazer o trabalho deles e precisam fazer independente de premiação. Porque dinheiro não compra a nossa saúde”, afirmou. "Hoje, o atendimento já é rápido demais. Despacham a gente e depois temos que voltar porque não conseguiram resolver”, afirmou a costureira Rosimeire Honório de Oliveira, de 45 anos.
Para o eletricista Tarso José de Medeiros, quantidade não significa qualidade. “Eles têm que melhorar o serviço como um todo, aumentando o número de médicos e não negando atendimento, como fizeram hoje com a minha filha, que levamos à Unidade Básica de Saúde e mandaram a gente procurar socorro no hospital porque ela não tinha cadastro lá”, reclamou. Para o conferente Fernando Leite de Campos, a melhoria será apenas para os médicos. “Se essa lei entrar em vigor, eles só vão atender mais rápido pelo dinheiro”, completou.