JOGO RÁPIDO

Paredes não é assim

Coluna publicada na edição de 7/11/18 do Correio Popular

Carlo Carcani Filho
07/11/2018 às 00:02.
Atualizado em 05/04/2022 às 21:24

A torcida do Zenit está indignada com Paredes. O meia argentino é acusado pelos torcedores do time de ter forçado sua expulsão no segundo tempo da vitória por 1 a 0 sobre o Akhmat. Paredes, que já tinha um cartão amarelo, foi expulso após dar um carrinho violento no meio do campo, a oito minutos do final da partida. Suspenso, o argentino está fora do clássico da próxima rodada do Campeonato Russo, contra o CSKA. Os torcedores acusam Paredes ter sido expulso de propósito para acompanhar, em Buenos Aires, o primeiro jogo da final da Libertadores. Formado na base do Boca Juniors, Paredes é torcedor fanático do time, pelo qual foi campeão argentino na temporada de 2011/12. Depois de passar pelo futebol italiano, foi vendido ao Zenit. Mas a distância não arrefeceu a sua paixão pelo time de infância. Não sei se Paredes vai negar as acusações ou se aparecerá de azul e amarelo na Bombonera sábado. Independentemente de sua versão para a expulsão, acho que os torcedores do Zenit estão certos. Tudo indica que Paredes, assim como milhões de argentinos, é um torcedor fanático a ponto de forçar uma suspensão e viajar de Moscou a Buenos Aires só para ver a primeira final da história da Libertadores entre Boca Juniors x River Plate. O futebol brasileiro tem mais títulos e craques do que o argentino, mas é inegável que a paixão dos hermanos pelo esporte é mais intensa do que a nossa. Podemos constatar isso nos estádios. Argentinos cantam e gritam durante 90 minutos. Brasileiros o fazem em momentos extremamente positivos de suas equipes. E vaiam com frequência muito maior do que os vizinhos. Quem passa alguns dias em Buenos Aires nota que esse interesse também é grande fora dos estádios. Durante os jogos, muitos restaurantes ligam a TV para seus clientes. No Brasil isso acontece com poucos estabelecimentos, aqueles de uma forma ou outra ligados ao esporte. E esse clima contagia também os atletas. É daí que a vem a tão temida e admirada “raça” argentina. Argentinos crescem sob influência de pais, parentes e amigos apaixonados por seus clubes. É assim com os torcedores e é assim com os jogadores. É assim até com o papa Francisco, torcedor fanático (perdoem a redundância) e de carteirinha do San Lorenzo. A atitude de Paredes não foi profissional, mas quem conhece o jeito argentino de torcer “entende” sua atitude. Ele não merece aplausos, mas quem não gostaria de ver um prata da casa torcendo assim por seu clube de origem? Estamos acostumados a ver garotos que se deslumbram após a primeira transferência e se esquecem da primeira camisa que vestiram. Paredes não é assim.

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