CARLO CARCANI

Parece várzea, mas é só o Brasileirão

29/09/2020 às 13:24.
Atualizado em 28/03/2022 às 00:02

A confusão que envolveu a realização ou não do jogo entre Palmeiras e Flamengo me fez lembrar a desorganização que marcou o Brasileirão há algumas décadas, quando o campeonato não tinha fórmula, regulamento, número de participantes e nem mesmo um calendário. Tudo isso mudava com enorme frequência, ano após ano. Outro problema gravíssimo era a famosa “virada de mesa”. Se um time grande fosse rebaixado, os cartolas rapidamente articulavam para mudar as regras. Muitas vezes o time sequer mudava de divisão. Quando não tinha jeito, o regulamento de acesso era alterado para “garantir” o retorno já na temporada seguinte. Essa bagunça só acabou com a adoção do sistema de pontos corridos. Foi uma grande evolução. Hoje sabemos quando e como o campeonato do ano seguinte será disputado. Sabemos que os últimos quatro colocados vão disputar a Série B, ainda que entre eles haja um gigante. A bagunça provocada pelo Flamengo me fez lembrar desse período pobre e desorganizado do futebol brasileiro. É uma vergonha que uma partida tão importante com os dois últimos campeões e candidatos ao título de 2020 comece atrasada sem que se soubesse, minutos antes do apito inicial, se seria realizada. É de um amadorismo inacreditável. A postura do clube carioca em todo esse episódio foi lamentável. Nos bastidores, tentou adiar a partida, embora tenha concordado com o protocolo estabelecido para a volta do futebol. Derrotado na CBF e no STJD, o Flamengo desprezou o regulamento e seus 19 concorrentes com uma manobra vergonhosa. Utilizou um sindicato presidido por seu chefa de segurança para conseguir, na Justiça do Trabalho, adiar a partida. A manobra gerou revolta entre os outros clubes, que chegaram a articular a realização de uma reunião para interromper ou cancelar o campeonato. O encontro só não ocorreu porque a justiça proibiu também o clube de treinar e jogar durante 15 dias. Isso poderia provocar a eliminação do clube na Libertadores. Diante desse cenário, o Flamengo retirou seu recurso da Justiça e chegou atrasado ao Allianz Parque para enfrentar o Palmeiras. Parece várzea, mas é só o Brasileirão. O futebol brasileiro não vai evoluir enquanto clubes e CBF forem incapazes de, juntos, trabalhar pelo bem comum, pelo crescimento do Brasileirão e das receitas de todos os participantes. A arrogância e o egoísmo do Flamengo foram exagerados, mas o futebol brasileiro sempre foi assim. Todos pensam em levar vantagem e ninguém olha para o Brasileirão como um produto a ser valorizado. Em poucos dias, o futebol brasileiro regrediu décadas. Carlo Carcani é coordenador de esportes do Grupo RAC. E-mail: carlo@rac.com.br

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