O século XXI tem sido um período muito propício ao avanço do conhecimento, e a substanciais mudanças de paradigmas. Esta mudança radical, que atinge a raiz de nosso modo de pensar, se nota também em relação às pessoas com deficiência, cuja realidade se transforma à medida em que ocorrem, com o passar do tempo, transformações sociais e culturais.
Já pontuei, em uma recente oportunidade, alguns aspectos que caracterizam este período, ressaltando certos parâmetros que causam um significativo impacto na vida deste grupo em particular.
Na ocasião, destaquei o abandono do assistencialismo e a consequente consolidação do protagonismo, assim como, de forma correlata, enfatizei a substituição de práticas de integração por um efetivo movimento de inclusão.
Temos, hoje em dia, uma realidade em que as próprias pessoas com deficiência atuam em favor daquilo que lhes diz respeito, fornecendo diretrizes acerca da inserção delas na sociedade. Nesta perspectiva, há uma força rumo à reestruturação dos mais diversos ambientes, a fim de que estes se tornem verdadeiramente inclusivos e apropriados para acolherem todos os seres humanos, com ou sem deficiência, indiscriminadamente.
Em um mundo pautado pelo olhar da inclusão, as pessoas com deficiência deixam de ser vistas como pessoas especiais, e passam a ser abordadas sem este distintivo. Sempre é oportuno enfatizar que uma deficiência, por si mesma, não torna alguém especial. Todos nós desejamos ser especiais por sermos amados e aceitos, e por podermos deixar nossa parcela de contribuição para o mundo. Esta qualidade independe de nossa condição física, e surge em função de nosso modo de ser ou da nossa disposição interna perante a vida.
Felizmente, as práticas e situações especiais, outrora destinadas a pessoas com deficiência, estão em extinção, uma vez que este público já não deseja viver de forma socialmente segregada, nem espera ter um tratamento impositivamente diferenciado.De maneira análoga, já se pode, hoje em dia, reconhecer que uma pessoa com deficiência não tem necessidades especiais, pois as demandas de cada indivíduo são únicas e singulares, não sendo plausível adjetivá-las ou classificá-las em categorias.
As pessoas com deficiência são vistas, deste modo, à luz das diferenças comuns a todo ser humano,, e o pertencimento delas ao mundo se constrói com base nesta diversidade.
O olhar sobre as diferenças e não sobre as deficiências acarreta que , o modelo médico, outrora vigente, venha gradativamente sendo substituído pelo modelo social. No primeiro paradigma, entende-se que uma pessoa com deficiência tem um problema de natureza física, sensorial ou intelectual, e, por isso, ela mesma representa um problema.
No modelo social, por sua vez, assume-se que os obstáculos vivenciados por quem tem uma deficiência decorrem das barreiras ambientais, e sobretudo atitudinais, a que elas estão submetidas. Posto este segundo modelo, admite-se a necessidade de se transpor estes obstáculos, e, por conseguinte, se eliminar as desvantagens decorrentes de uma deficiência.
Estes parâmetros aqui abordados podem nos ajudar a medir o grau de evolução de nossa história, e de nos apontar o quanto as pessoas têm se tornado mais capazes de se abrirem genuinamente a novos olhares e horizontes.