Coluna publicada na edição de 2/3/19 do Correio Popular
Aos 30 anos, Jael está pronto para defender o Tokyo na J-League. O clube japonês será o 15º time de sua carreira. Jael já atuou na China, na Coreia do Sul e na Suécia. No Brasil, defendeu grandes como Cruzeiro, Atlético-MG e Flamengo e vestiu a camisa de vários clubes intermediários, como Bahia e Sport. Mas foi em Porto Alegre que viveu a experiência mais marcante de sua carreira. Até chegar ao Olímpico, seu único título era o da Série B de 2014, pelo Joinville. No Grêmio, foi campeão da Libertadores em 2017 e também ganhou o Gaúcho e a Recopa em 2018. Mas o que chamou a atenção em seus dois anos em Porto Alegre foi a capacidade de dar a volta por cima. Com 19 partidas e nenhum gol, Jael foi motivo de piada em 2017. No ano passado, sofreu menos com contusões e entrou em campo 45 vezes. Fez 12 gols, marca que não alcançava desde 2014, quando balançou as redes 19 vezes pelo Joinville. Jael não virou um cobiçado matador, mas deixou de ser piada. A imprensa do Rio Grande do Sul chegou a debater como ficaria o ataque do Grêmio, um dos melhores do País, sem o centroavante. Falar em Jaeldependência talvez tenha sido um exagero, mas o atacante conseguiu resgatar seu prestígio. E é difícil conseguir isso no mesmo lugar onde foi motivo de piada. Na coletiva de despedida, Jael se emocionou logo depois de dizer a seguinte frase: “Eu cheguei aqui sem ser respeitado e hoje eu tenho respeito”. Nesse momento, respirou fundo e se esforçou para segurar as lágrimas. Então contou que em 2017, em uma conversa com sua esposa, explicou a ela porque havia recusado propostas vantajosas para deixar o clube. A partir desse momento, já chorando, relembrou que contou à mulher que tomou a decisão de renovar com o Grêmio para poder mudar o pensamento de todos e para mudar sua história no clube. Em 2019, Jael jogou três partidas, fez dois gols e foi vendido ao Tokyo, sexto colocado da J-League de 2018. O objetivo do clube é fazer uma campanha melhor. E para isso investiu na contratação de Jael, que vai receber no Japão um salário três vezes maior do que tinha no Olímpico. Um prêmio merecido para um jogador que se incomodou com vaias e trabalhou duro para conquistar aplausos. Feliz do time que tem jogadores com esse perfil. Jael não é craque, mas conseguiu, dando 100% em cada jogo, como destacou na entrevista, conquistar não apenas títulos, mas também a admiração da torcida que não o respeitava. É uma virtude rara em um esporte no qual os altos salários muitas vezes geram acomodação.