ESPANHA

Pamplona: sacra e pagã

Conhecida pelas corridas de touros, a cidade, que um dia pertenceu ao reino de Navarra, abriga tesouros históricos preciosos

Eduardo Gregori
15/09/2013 às 05:59.
Atualizado em 26/04/2022 às 02:42
Público participa do Chupinazo em Pamplona, cerimônia abre oficialmente o Festival de San Fermín, que acontece desde o século XII no dia 6 de julho; evento tem corrida de touros pelo Centro e touradas na praça ( Divulgação)

Público participa do Chupinazo em Pamplona, cerimônia abre oficialmente o Festival de San Fermín, que acontece desde o século XII no dia 6 de julho; evento tem corrida de touros pelo Centro e touradas na praça ( Divulgação)

“Pamploneses, pamplonesas. Viva San Fermín! Gora San Fermín!”. É com esta tradicional saudação pronunciada ao meio-dia do dia de 6 julho e ao espocar de um foguete que se inicia a festa de San Fermín, celebração que coloca a pacata Pamplona em destaque nos quatro cantos do planeta. O festival acontece desde o século XII e ao contrário do que muitos estrangeiros pensam, não se trata de uma espécie de farra do boi ou de uma carnificina animal. San Fermín é uma mescla de festa pagã e religiosa. O confronto homem-touro trata-se de uma exaltação ao animal símbolo máximo da Espanha. Sob a benção do santo, o objetivo de cada um dos “encierros" é correr com o touro (e não dele) pelas estreitas ruas do Centro e desfrutar da adrenalina desta experiência única. E se a tourada (confronto final para todos os touros que participam do festival) pode ser interpretada por quem não é da terra como maus tratos ao animal, quem decide no fim o destino do touro é a plateia. Se foi um bom corredor, se deu uma espécie de show, se se mostrou um animal de excelência, então o prêmio será descansar o resto da vida com todo o conforto que um vencedor merece e ainda ter o direito de passar seus genes para outras gerações, que como ele, correrão pelas ruas desta incrível cidade.San Fermín é uma das festividades mais conhecidas da Europa e período em que turistas do mundo inteiro lotam Pamplona afim de aventurar-se com os touros e também para desfrutar de tudo que acontece durante os dias 6 e 14 de julho. Celebrações religiosas, shows musicais, apresentações folclóricas locais, intensa vida noturna e espetáculos taurinos fazem parte da programação. A cidade fica no Norte da Espanha, a 450 quilômetros de Madri na fronteira com a França. Para verPamplona é uma cidade relativamente plana e pequena. Então, a melhor maneira de conhecer o lugar é colocar um par de tênis e caminhar. Se a visita for durante o Verão, recomenda-se roupas leves e uma garrafa d’água pois a temperatura chega fácil aos 40 graus. Agora, se for no Inverno, não esqueça de agasalhos quentes, pois o clima derruba a temperatura aos cerca de 10 graus, podendo chegar aos 8 negativos e com muito vento.Entre os monumentos mais representativos de Pamplona encontram-se o Ayuntamiento (prefeitura), a Catedral, a Igreja de San Saturnino, a Igreja de São Nicolás, a Ciudadela, o Fortín de San Bartolomé e a Câmara de Comptos de Navarra. AyuntamientoFoi construído na junção dos três burgos que deram origem à cidade, em 1423. O prédio atual, erguido há pouco mais de sessenta anos, conserva a fachada do antigo, construído em 1755, que por sua vez substituiu o edifício original do século XV. Ele é a sede da Prefeitura de Pamplona e local onde acontecem todas as principais cerimônias oficiais da cidade, incluindo o chupinazo, que dá início às festas de San Fermín. Catedral de Santa Maria La RealA Catedral de Santa Maria La Real é um prédio em estilo gótico que substituiu a antiga catedral destruída em 1276. Sofreu grandes obras de restauração durante toda sua história, sendo que a atual fachada é do final do século XIX. Dentro ficam as sepulturas dos reis de Navarra e um gigante acervo de peças de arte sacra. Igreja de San SaturninoConstruído no século XII, o templo é uma igreja-fortaleza com mistura de formas góticas e uma grande capela dedicada à Virgem do Caminho. Sua torre iluminada é um dos cartões postais de Pamplona. Igreja de São NicolásIgreja-fortaleza que integrava o complexo de muralhas da cidade. Foi construída no século XII e nela está o órgão barroco mais importante da cidade. CiudadelaA Ciudadela é uma fortaleza defensiva em forma pentagonal. Uma das mais bem-conservadas da Espanha e a principal edificação do conjunto fortificado que circunda toda a cidade de Pamplona. Foi construída entre os séculos XVI e XVIII e, em 1964 foi cedida pelo exército ao município, transformando-se em um parque público. No fim de 2010 concluiu-se um processo de total restauração do local e outros elementos do conjunto defensivo seguem em restauração. Fortín de San BartoloméFoi a última edificação construída no conjunto defensivo de Pamplona durante o século XVIII e, dos três fortins originais do complexo, é o único que ainda existe. Em 2011 foi totalmente restaurado e abriga atualmente o Centro de Interpretação das Fortificações de Pamplona, que se dedica ao constante estudo da história das defesas de Pamplona. No local existe um museu onde é possível conhecer um pouco da história do município. Câmara de Comptos de NavarraA Câmara de Comptos é o único edifício civil em estilo gótico que sobreviveu ao longo dos séculos. Foi um palácio antes de ser transformado no Tribunal de Contas de Navarra. O prédio também serviu como a primeira sede da Universidade de Navarra. Circuito de bares e baladasOs bares e restaurantes pamploneses ficam abertos toda a semana para almoço e jantar. Mas é a partir de quinta-feira que o bicho pega. Para aproveitar o melhor destes locais é preciso chegar a partir das 19h (quintas) e ainda mais tarde nas sextas e sábados. Nas quinta-feiras, os bares fazem uma promoção chamada juevintxos, em que uma bebida e um pintxo (petisco) saem entre 2,00 e 2,50 euros. a promoção surgiu para enfrentar a crise econômica que assola a Europa, mas não deixa de ser uma boa desculpa para esticar o papo e pedir mais algumas bebidas e petiscos.O circuito começa na Plaza Del Castillo, bem no Centro da cidade. Os bares Txoko, Café Iruña e Okapi merecem uma visita pelo tradicional e saboroso pintxo e pela variedade de bebidas. Na Calle Estafeta, os bares Gaucho (premiado várias veze), Bodegón Sarria (condecorado pelo Guia Michelin) e o Chez Bellagua não podem passar desapercebidos.No estilo nacionalista basco, na Plaza de La Navarreria e Calle de la Calderería ficam a Méson de La Navarrería, Garatzi e Toki Lesa, onde drinques e comidas são servidos ao som de rock’n roll e estilo mais alternativo. No baluarte de Redin fica a Maison del Caballo Blanco, onde é possível curtir durante as tardes de Verão um bom café ao som de jazz e soft rock ao vivo.Nas sextas e sábados a maioria dos bares estica o expediente até as 4h da manhã e se o turista quiser esticar ainda mais a noite, a balada é no bairro San Juan, onde ficam casas noturnas, sendo a mais famosa o Marengo, que fecha só depois que o último cliente deixa o local, isso lá pelas 9h da manhã. HistóriaPamplona, oficialmente também chamada de Iruña no idioma basco, foi fundada em 74 a.C pelo general romano Pompeu. Após as invasões bárbaras no século VI, a cidade fez parte do Reino Visigótico de Toledo e, a partir do século VIII, do Al-Andalus muçulmano. Durante a primeira metade do século IX a nobreza local consolidou um reino, que mais tarde se tornou o Reino de Navarra, alcançando a independência em 905 e se tornando, no século XI o mais poderoso de toda a península ibérica. Em 1512 o reino foi tomado pelas tropas castelhanas do rei Fernando, o Católico. Em 1521 foi oficialmente anexado à coroa espanhola. Até hoje os nacionalistas bascos lutam pela independência e consideram Pamplona como a Capital do País Basco.Pamplona é a Capital e centro administrativo da província de Navarra, abrigando indústrias automobilística, metalúrgica, de materiais de construção, papel e artes gráficas, e de carne. Bem estruturada, a cidade conta com duas universidades que atraem estudantes do mundo todo. Destino para estudarAlém de inúmeras atrações históricas e belas paisagens, Pamplona também é conhecida por sua intensa vida acadêmica e relevância no cenário das letras e ciências da Europa. A Universidad de Navarra (UNAV), instalada ao Sul do município, recebe todos os anos alunos e professores do mundo todo para cursos de graduação e pós-graduação, além de atividades de pesquisa. Fundada em 1952, tem sua excelência reconhecida em diversas áreas do conhecimento e a internacionalidade como um de seus valores básicos. A Biblioteca de Humanidades possui um acervo de mais de um milhão de livros e a Clínica Universitária é referência europeia na área de saúde. Além da ampla estrutura da UNAV, Pamplona ainda abriga a Universidad Pública de Navarra (UPNA) e um centro da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED). Palácio Real de OliteA edificação do século XIII era a corte dos reis de Navarra e foi considerado o mais belo castelo de sua época. Em 1512, quando Navarra foi conquistado, foi ordenada a destruição de todos os castelos do reinado. O golpe de misericórdia deu-se em 1813 quando o guerrilheiro Francisco Espoz y Mina colocou fogo no que restava do palácio pensando que o local seria estratégico para Napoleão.Apenas no início do século 20 o palácio foi restaurado. Apesar da remodelação, é possível ver partes da majestosa construção original. Para entrar no castelo é preciso pagar 3,50 euros. A visita guiada por fones de ouvido sai por mais 1 euro. A igreja de Santa Maria, anexa ao palácio, cobra 1,50 euro pela entrada.Uma caminhada pelas estreitas ruas da cidadela revela becos e casas construídas há séculos e que, de certa maneira, conservam o aspecto medieval. Uma belíssima surpresa é a igreja de São Pedro. Apesar de mal conservada, abriga muitas relíquias sagradas.Olite tem estrutura para o turista que pretende passar o dia por lá. Para quem está em Pamplona, basta tomar o ônibus na estação rodoviária por 3,51 euros (cada trecho) e pedir ao motorista para parar na cidade, pois não existe rodoviária e o ônibus segue para outros municípios. Visitante ilustreAlém de San Fermín, Pamplona tem até hoje como seu principal divulgador, Ernest Hemingway. O escritor norte-americano ouviu falar das corridas de touro, decidiu visitar Pamplona e desembarcou na cidade em 6 de julho de 1923, exatamente no dia em que é aberta a festa. O impacto daquela experiência foi tão forte que o levou a escrever seu primeiro livro de sucesso: O Sol Também Se Levanta (The Sun Also Rises) e que tem San Fermín e as ruas de Pamplona como pano de fundo. A paixão de Hemingway pelo festival foi tão grande que ele retornou outras oito vezes, sendo a última em 1959, dois anos antes de sua morte, ocorrida por coincidência ou não, quatro dias antes do início do festival em 1961.Pamplona homenageia seu visitante com uma rua e um busto em frente à arena de touros. Os guias locais oferecem um tour que segue os passos do escritor pela cidade. Entre os locais visitados estão o hotel Perla, que preservou o quarto de Hemingway da mesma maneira que ele o deixou em sua última visita e o Café Iruña, onde inclusive, há uma estátua dele.

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