Todos temos um lado romântico repleto de idealizações, imaginário abundante, grande entusiasmo pela paixão. Isso é muito bom, podemos nos apaixonar efusivamente em qualquer época da vida, da infância à senescência, de formas proporcionalmente infantis, juvenis e maduras. Há amores de alta intensidade romântica entre escolares do ensino fundamental e em asilos de grandes idosos. Na atualidade, a Neurociência é área em desenvolvimento extraordinário. Apresenta ativa e frequentemente trabalhos objetivos, com dados concretos, sobre a bioquímica e a neurofisiologia cerebral associados ao amor, ao sexo e à paixão. No entanto, como seres humanos, animais complexos e subjetivos, não podemos nos limitar às referências de avaliação neuro-hormonal ao lidar com limites e riscos da paixão. Não nos conformemos apenas com neuromediadores, bem como não basta simplesmente um remédio para cuidar da Depressão. O paciente depressivo deve ser ajudado, por exemplo, com o Prozac e a prosa. Se puder, fruirá dos dois. Se não, ele deve começar pela prosa. A compreensão neuroquímica da paixão implica vários hormônios e mediadores, em diferentes participações e influências, principalmente: dopamina, estrógeno, oxitocina, testosterona, serotonina, endorfina, noradrenalina e feniletilamina. São as nossas drogas ‘internas’, naturais, que, na pessoa apaixonada, ativam as mesmas áreas cerebrais sensíveis às drogas ‘externas’, muitas vezes ilícitas... Os sintomas do cérebro apaixonado são extremamente semelhantes aos efeitos das drogas como anfetaminas, cocaína, morfina e ecstasy. Tais psicotrópicos vêm de fora, ativando os circuitos de recompensa, do prazer, liberando as nossas substâncias de dentro, levando-nos ao estado de paixão. Essa dinâmica complicada promove até síndrome de abstinência. Casais apaixonados, destacadamente nos primeiros seis meses, necessitam estar em proximidade física tanto quanto um dependente químico anseia a próxima dose. Sabemos que a fronteira entre o remédio e o veneno é sutil. Esses circuitos químicos da paixão podem girar entre o enlevo e o vício. As paixões humanas envolvem naturalmente amor e sexo. Algumas são referidas como ‘platônicas’, incrementadas no espírito, no plano sentimental e estético, prescindindo da carne. Assim era o lirismo dos trovadores medievais, o amor cortês. Hoje, vencido o moralismo antigo, uma oferta puramente erótica não quebra o encanto, pode ser um sexo cortês. Um cuidado maior, especialmente com o incremento da vida doméstica, é necessário. É fácil de se cair em uma paixão digital. Na esteira do ‘Home Office’, pode surgir a ‘Home Passion’. Há pessoas que se entusiasmam tanto pelo amor virtual que adiam indefinidamente o encontro pessoal - algumas o evitarão sempre. A lógica pede que o par, antes de casar, namore muito, presencial e intensamente, aproveitando o êxtase da paixão e construindo a senda conjugal. Joaquim Z. Motta é psiquiatra, sexólogo e coordenador do Grupo de Estudos do Amor