Vandalismo falou mais alto do que o exemplo de cidadania que vinha sendo dado pela maioria
Os atos de vandalismo praticados por grupos radicais na noite da última quinta-feira (21) durante a histórica manifestação que reuniu cerca de 35 mil pessoas na região central de Campinas — e que se repetiram na sexta (21), mesmo com um grupo bem menor, de 3 mil manifestantes — falaram mais alto do que o exemplo de cidadania que vinha sendo dado pela imensa maioria nas ruas. Em resposta a isso, e atentos para que a sociedade em geral não se vire contra um movimento democrático espontâneo na cidade, os integrantes do grupo que coordena as mobilizações estão em busca de identificar e tentar um possível diálogo com os vândalos.
O objetivo também é desvencilhar os atos de pura selvageria que renderam pelo menos oito detenções da pauta original de descontentamento social do movimento. Na sexta-feira, enquanto um grupo caminhava pacificamente em alguns pontos, outros entravam em confronto com a Tropa de Choque da Polícia Militar (PM).
“Nós estamos tentando localizar e entender de onde vêm essas pessoas, quem são elas. A nossa intenção é, obviamente, a de que não exista esse tipo de ação de baderneiros em grupos isolados, o que acaba indo contra o movimento. Por outro lado, temos nos esforçado para entender quais são as motivações dessas pessoas. Claramente, havia diferenças entre os grupos que estavam na manifestação (de quinta). Alguns deles se envolveram naquele confronto com a Guarda Municipal. Existiu um grupo que permaneceu ali (na região do Paço Municipal) até o final em confronto com a polícia e ele era composto por menos de uma centena de pessoas; era um grupo bem pequeno. Mas o confronto começou quando ainda havia uma grande massa”, comenta Luiz Muller, coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da PUC-Campinas e integrante da Frente Contra o Aumento da Passagem.
Essa postura contrária à violência da minoria já era evidente na própria quinta-feira, quando muitos manifestantes pediam para que o vandalismo fosse evitado diante do Paço Municipal. Alguns chegaram a arriscar a sua integridade física ao tentar impedir a depredação, ficando entre as bombas dos agitadores e as da GM. Ainda no trajeto próximo à Prefeitura, muitos manifestantes adotaram a tática de se agachar no asfalto para, assim, deixar claro quem estava ali para se expressar livremente e quem procurava a baderna pura e simples.
“Se por um lado a gente se preocupa em contornar a presença desses grupos (radicais), que se apropriam da nossa pauta para realizar ações sem sentido que acabam jogando a sociedade contra o movimento, por outro também estamos preocupados com o preparo da GM no enfrentamento dessas situações”, comenta o integrante do movimento.
Muller defende a conscientização das pessoas que, ao invés de cartazes, faixas ou palavras de ordem, escolheram atirar pedras e barras de ferro contra todo e qualquer patrimônio público, além de saquear o comércio. Apesar do senso comum apontar os punks (teoricamente anarquistas), skinheads (radicais de direita que pregam o ódio aos negros, nordestinos e homossexuais, por exemplo) e os mascarados anonymous (subcultura nascida na internet onde pessoas escondem suas verdadeiras identidades por um ideal comum, como se todas fizessem parte de um mesmo organismo) como exclusivos autores dos atos de violência, o que se viu na semana passada foram jovens comuns, com os rostos cobertos, extravasando uma agressividade gratuita e sem direção, apenas com o interesse de atingir o poder.
Outro organizador da manifestação, que preferiu não se identificar, admite que o comportamento violento de alguns impede o sucesso da ação de todos. “É claro que a postura pacifista nos traria, desde o início, a credibilidade. Nós tentamos, inúmeras vezes, entrar na Prefeitura (na quinta), mas não conseguimos por conta da violência. O ideal é trabalharmos de forma conjunta”, avalia o organizador.