Doença pode ser controlada com medicamentos e boa disposição
Uma doença desconhecida por muitos, mas que só no ano passado levou 637 pessoas a internações nos hospitais públicos de São Paulo, duas por dia. O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença inflamatória crônica, autoimune, que acomete vários órgãos do corpo. O organismo passa a produzir anticorpos que atacam e provocam inflamação de células e tecidos saudáveis. As causas ainda são desconhecidas, mas sabe-se que predomina no sexo feminino. Ainda não há cura para o problema, mas, tratado adequadamente, pode ser controlado. A doença foi abordada recentemente na novela global Amor à Vida, quando a pequena Paulinha, interpretada pela atriz Klara Castanho, precisou ser submetida a um transplante de fígado. Segundo a médica reumatologista Valéria Khul, o lúpus apresenta sintomas variados, que dependem do órgão acometido. “Podem prevalecer sintomas cutâneos, sensibilidade à luz, úlceras orais, queda de cabelo, dor articular ou inflamação nas articulações, alterações renais, cardiopulmonares ou neuropsiquiátricas.” Os especialistas acreditam que múltiplos fatores podem estar envolvidos no desenvolvimento da doença, como predisposição genética, agentes infecciosos (virais), radiação ultravioleta, além de fatores hormonais. “Indivíduos pré-dispostos geneticamente a esses fatores desencadearia desequilíbrio no sistema imunológico levando à produção de anticorpos contra estruturas das próprias células do paciente.” Existem dois tipos do lúpus, o sistêmico, em que há comprometimento de vários órgãos, e o cutâneo, limitado à pele. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos e laboratoriais, entre eles a mancha avermelhada em forma de borboleta no rosto (Rash Malar) e alterações na contagem das células do sangue. “Várias doenças que podem mimetizar alguns desses achados, sendo necessário diagnóstico por especialista”, disse Valéria. O tratamento é feito com medicamentos que interferem na produção dos anticorpos pelo sistema imunológico do paciente. “A maior parte dos pacientes necessita de corticoide e imunossupressores em alguma fase da doença.” Cuidados Além do tratamento, algumas recomendações devem ser seguidas pelo paciente. “É importante consultas periódicas ao reumatologista, exames regulares e nunca interromper a medicação sem orientação médica. Cuidados com a proteção à exposição solar, que pode desencadear a atividade da doença, são para toda vida. Outro fator importante é a orientação quanto à vigilância de quadros infecciosos que podem aparecer pela diminuição da imunidade causada pela doença ou pelos medicamentos.” O otimismo e a maneira de encarar o lúpus foram essenciais para Tatiana Favaron, de 28 anos. O diagnóstico da doença veio há 10 anos e, após enfrentar períodos difíceis, hoje ela está com o problema controlado e leva uma vida normal. Os primeiros sintomas enfrentados foram inchaços nas juntas, perda de peso e queda de cabelo. “Fui ao reumatologista, mas os exames não apontavam reumatismo. Depois fui ao endocrinologista. Como eu estava com a mancha da borboleta no rosto, ele suspeitou que fosse lúpus e me encaminhou para outro especialista, que pediu exames específicos.” Com a confirmação do lúpus, o tratamento seguiu à base de doses altas de cortisona. Os efeitos colaterais não demoraram a aparecer. “Inchei e ganhei 14 quilos.” O lúpus também trouxe complicações para os rins. A substituição do medicamento, no entanto, trouxe bons resultados. “Voltei ao normal.” Há quatro anos, o médico suspendeu a medicação. “Continuo fazendo o acompanhamento porque a doença não tem cura.” Nem na fase mais crítica Tatiana se deixou abater. “Na época que descobri, tinha acabado de entrar na faculdade, mas conclui. Os médicos também me encaminharam para psicólogo. Sabia o que era a doença, os riscos, mas decidi levar tranquilamente. Casei faz quatro anos, não deixo de ir à praia — sempre com bastante protetor — ou de fazer o que gosto. O médico falou que qualquer cura depende da nossa cabeça. Não adianta tomar um remédio achando que você vai morrer porque não vai adiantar. E decidi encarar dessa forma.” As pesquisas na área de engenharia-genética, segundo Valéria, são promissoras. No início da década passada, uma nova classe de remédios começou a ser usada em doenças reumatológicas com grande impacto sobre a evolução.