A seleção brasileira ainda não aprendeu a fazer oposição e,segundo o saudoso Tom Jobim, o país “é para profissionais”. E enquanto o meio-campo e o ataque da seleção canarinho vão se entendendo em campo, a defesa carece, como o Congresso Nacional, de uma boa e bem articulada rede de oposição.
Nada, ou quase nada, me emocionou, assim como nas versões anteriores, nessa Copa das Confederações. E o que vi é crucial para qualquer torcedor que já viu uma seleção sendo defendida por um Zito, Nilton Santos, Oscar, Djalma Santos – e ficou eu aqui perdido na meia-lua adversária, centroavante sem espaço na memória. E feliz me sinto em saber que temos um Fred lá na frente pra fazer um dos gols mais feios que já vi em jogos oficiais de seleção. Os românticos diriam que o gol foi uma “pintura” de raça e reflexo – como se ambas as coisas não constituíssem o básico da fisiologia de um jogador de futebol, e, mais ainda, de quem carrega o número nove nas costas, o símbolo maior de quem tem por ofício fazer com que a bola cruze a linha fatal do gol adversário. E Fred não tem obrigação de ser Monet.
O resultado final e oficial não pode e nem deve esconder o placar moral da partida: Julio Cesar fez milagres em duas defesas; Sergio Ramos, o espanhol, errou um pênalti infantilmente cometido pelo lateral Marcelo (o que ele estava fazendo ali, Felipão?); e David Luiz salvou um gol a menos de trinta centímetros da linha das traves. Fossem os deuses generosos e a Espanha teria feito quatro gols e, quem sabe, as manchetes nacionais seriam outras, algumas chorosas, outras raivosas, e nenhuma falando que a seleção brasileira, a exemplo do que ocorre na política, tem uma defesa profissional, clara e segura de seus atos.
Mas o que lemos nos jornais é que Felipão encontrou a sua seleção e vamos em frente porque atrás vem gente. E disso, de gente atrás, quem sabe é a presidente Dilma Rousseff que desistiu de ir ao Maracanã por causa das vaias que aguardavam-na. O povo reclamando fora dos estádios contra o custo lupanar das obras da Copa do Mundo é a síntese da oposição que precisamos na defesa da seleção brasileira, com jogadores se empenhando ao máximo em combater o adversário em trincheiras avançadas e, se possível, recuar taticamente para iludir armadores e atacantes, se antecipando e sair em contra-ataque. E para isso não é necessário combinar com os “russos”: basta que Felipão convoque zagueiros que gostam de jogar para o time e não para os seus egos.
PS. Li que a seleção canarinho seria recebida pela presidente Dilma, em Brasília. Se ela abortou ou não o pé-frio do Lula, bem, isso só saberemos na Copa de 2014. E depois não adianta chorar o leite derramado, certo?