Os vencedores (João Nunes)
Não só não houve nenhuma grande surpresa, como farta distribuição de estatuetas. Este foi o saldo final da 87ª edição do Oscar, que terminou na madrugada de ontem em Los Angeles. Se Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de Alejandro González Iñárritu, sagrou-se o vencedor da noite com quatro estatuetas (filme, direção, roteiro original e fotografia), todos os oito indicados levaram troféus para casa. (veja a lista completa)
Com isso, o Sindicato dos Produtores (PGA, sigla em inglês) – os homens que dão as cartas em Hollywood – emplacam o sétimo Oscar seguido. Nos últimos sete anos, todos os escolhidos do PGA ganharam o cobiçado troféu.
E, no final das contas, todo mundo saiu mais ou menos feliz da festa, com exceção de Michael Keaton. A disputa na categoria de ator era difícil mesmo porque a concorrência foi pesada; porém, tudo indicava que esta seria a vez dele – talvez a melhor chance da carreira de conquistar a estatueta, mas perdeu para Eddie Redmayne.
O talentoso ator britânico está impecável como Stephen Hawking em A Teoria de Tudo (James Marsh) – que não é grande coisa –, mas ele é jovem e poderia esperar. A TV não mostrou a reação de Keaton, mas a decepção deve ter sido grande. E a escolha provou uma vez mais como Hollywood adora interpretações que exigem transformações físicas dos atores.
O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson), com nove indicações (mesmo número de Birdman), também se satisfez com quatro prêmios técnicos (trilha sonora original, figurino, cabelo e maquiagem e desenho de produção).
Do mesmo modo, as equipes de Boyhood – Da Infância à Juventude (Richard Linklater), O Jogo da Imitação (Morten Tyldum) e Whiplash: Em Busca da Perfeição (Damien Chazelle) curtiram os respectivos prêmios de atriz coadjuvante (Patricia Arquette), roteiro adaptado, e especialmente o último que conquistou três estatuetas: ator coadjuvante (J.K. Simmons), edição e mixagem de som.
Até o superestimado Selma, de Ava DuVernay (o filme só vale pela importância histórica), saiu feliz ao conquistar o Oscar de canção original, com Glory (John Stephens e Lonnie Lynn) e por ter ganhado com sobras como o momento mais emocionante da festa.
A performance da dupla de compositores, apoiada por um coral que imitava a marcha dos negros na cidade de Selma cinquenta anos atrás fez o público aplaudir em pé e levou o protagonista, o britânico David Oyelowo, às lágrimas.
E ficou evidente um quase pedido de desculpas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para com os negros por conta da ausência deles nas indicações. Quase todas as duplas de apresentadores teve atores negros, assim como a câmera os buscou com insistência o tempo todo durante a cerimônia.
O outro momento importante foi a homenagem ao também cinquenta anos de A Noviça Rebelde, com uma performance comportadíssima de Lady Gaga, cantando músicas do filme e uma aparição luminosa da atriz Julie Andrews que agradeceu emocionada à cantora.
E, em plena América, brilharam os latinos. Afinal, Alejandro González Iñárritu é mexicano, fez a dobradinha filme/direção e ofereceu o prêmio aos mexicanos. E teve dois argentinos. Nicolas Giacobone e Armando Bo que conquistaram o Oscar de roteiro original (junto com Iñárritu e Alexander Dinelaris).
Os argentinos, que são primos e vivem nos Estados Unidos, haviam também faturado o Globo de Ouro. Nicolas falou em espanhol e dedicou o prêmio ao país dele. Agora, nossos hermanos acumulam seis Oscar: aos dois de ontem somam-se dois de Gustavo Santaolalla (trilha de O Segredo de Brokeback Mountain e de Babel, em 2005 e 2006) e filme estrangeiro para A História Oficial (1986) e O Segredo dos seus Olhos (2010).
A festa ainda reservou espaço para Julianne Moore, que levou o Oscar pela interpretação de professora com Alzheimer em Para Sempre Alice (Richard Glatzer). Nos agradecimentos disse que o filme traz importante mensagem sobre uma doença ainda sem cura, mas também brincou. Afirmou que o Oscar costuma aumentar em cinco anos a vida de quem o ganha e ela estava feliz por isto. O filme estreia dia 12 de março no Brasil.
E falando em humor, a melhor piada da noite não veio do apresentador Neil Patrick Harris, mas do cantor Jared Leto que introduziu a categoria atriz coadjuvante. “São quatro indicadas e, segundo a lei do estado da Califórnia, Meryl Streep” – por causa da sua 19ª nominação, recorde absoluto. Aliás, Meryl gritou várias vezes “sim” quando, nos agradecimentos, a vencedora de atriz coadjuvante Patricia Arquette saiu em defesa da equiparação salarial das mulheres americanas.
Surpresa mesmo foi a categoria filme estrangeiro. No lugar do favorito Leviatã (Rússia), um polonês levou a estatueta: o bom Ida, de Pawel Pawlikowski, sobre jovem noviça Ida, cuja família judia foi capturada e morta pelos nazistas. Outra marca do Oscar: muito difícil um filme sobre judeus na Segunda Guerra passar batido.
Saiba mais
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Filme
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Direção
Alejandro G. Iñárritu (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Atriz
Julianne Moore (Para Sempre Alice)
Ator
Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)
Atriz coadjuvante
Patricia Arquette (Boyhood – Da Infância à Juventude)
Ator coadjuvante
J.K. Simmons (Whiplash: Em Busca da Perfeição)
Roteiro original
Alejandro González Inarritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo, (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Roteiro adaptado
O Jogo da Imitação
Canção original
Glory, John Stephens e Lonnie Lynn (Selma)
Fotografia
Emmanuel Lubezki (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Longa de animação
Operação Big Hero
Filme estrangeiro
Ida (Polônia)
Documentário
Citizenfour
Edição
Whiplash
Trilha sonora original
O Grande Hotel Budapeste (Alexandre Desplat)
Figurino
O Grande Hotel Budapeste
Cabelo e maquiagem
O Grande Hotel Budapeste
Desenho de produção
O Grande Hotel Budapeste
Edição de som
Sniper Americano
Mixagem de som
Whiplash: Em Busca da Perfeição
Efeitos visuais
Interestelar
Documentário curta-metragem
Crisis Hotline: Veterans Press 1
Curta de animação
O Banquete
Curta de ficção
The Phone Call
*Publicado no Correio Popular de Campinas em 24/2/2015