MARCOS INHAUSER

Os sabores pelo mundo

Marcos Inhauser
igpaulista@rac.com.br
13/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 13:56

Nas estradas da vida já derrapei muitas vezes com a questão de comida. Confesso que tenho um paladar bastante conservador e não sou dado a experiências gastronômicas. Diferentemente de um amigo estadunidense que, quando veio ao Brasil, todos os dias íamos tomar suco em um trailer e a cada dia ele pedia uma coisa diferente, alguns de frutos que eu nunca tinha ouvido falar. Respeito quem gosta de provar coisas novas. Já passei meus perrengues. Na Argentina foi a tal da morcilla (chourizo); no Paraguai foi a parrillada (churrasco com miúdos de boi); no Chile o cholgazo (uma porção de moluscos); no Peru foi a papa negra (uma bata podre) e o cuye (um tipo de preá); no Equador o yauarlocro (sopa de sangue de porco); na Costa Rica a papa negra (sopa de feijão preto com muita cebola); na Guatemala o tamale (pamonha com carne de porco); na República Dominicana o guisado de chivo (ensopado de carne de bode); na Coreia do Sul uma sopa com osso buco que exalava um cheiro que me embrulhou o estômago); em Taiwan o jelly fish (um peixe limboso). Cito alguns exemplos para dar uma ideia das agruras pelas quais já passei com meu paladar todo certinho. Com o tempo fui descobrindo algumas coisas que acho que se aplica a outras pessoas com o mesmo perfil. A primeira é que eu como com a cabeça. Antes de colocar na boca algo, eu vou pelo que escuto, pelo que vejo, pelo que cheiro. Só então me disponho a provar. A segunda é que, definitivamente, não consigo comer coisa meio limbosa e gosmenta. Prefiro a comida seca às molhadas e encharcadas em molho, exceção feita à muqueca. Tenho meus pruridos com os moluscos e frutos do mar, exceção aos camarões, lagosta e caranguejo. Gosto do tempero mais forte. Detesto comida sem sal e aprecio uma pimenta em dose moderada. Nestes dias comi um peixe frito carregado na pimenta do reino que me fez tossir um bocado. Aprendi na China mais algumas coisas sobre flexibilizar as minhas preferências culinárias. Certa feita, um casal chinês convidou a mim e minha esposa, mais a família da minha filha para um jantar. Fomos ao um restaurante chinês e os dois chefes de família (meu genro e o que havia convidado) pegaram o cardápio e escolhiam a comida. Começou a me dar arrepios imaginando o que viria. Virei para minha filha perguntei se ela podia interferir e ela disse que não porque isto é atribuição dos chefes familiares. Tremi nas bases. Ela percebeu e me disse: olhe e pegue o que lhe parece bom e não pergunte o que é. Assim fiz e assim estou fazendo nestes dias. Aprendi a testar a novidade que me pareça agradável aos olhos e que não agrida meu nariz. Uma coisa descobri: entendo hoje porque o símbolo da China é o dragão, animal que solta fogo pela boca. Já comi muita coisa que me fez sentir dragão, soltando fogo pelas ventas.

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