iG - Fabiana Bonilha (Cedoc/RAC)
Desde crianças, aprendemos, por meio da inteligência, que Deus é Bom, e que sua Bondade é verdadeiramente infinita. Assimilamos esta ideia, mas logo constatamos que este aprendizado intelectual não é suficiente para que de fato a compreendamos.Chegamos ao entendimento de seu significado apenas quando nos tornamos capazes de sentir os reflexos desta Bondade nas situações reais e nos acontecimentos de nossas vidas. A Bondade divina é concreta, e por isso pode ser experimentada, tocada, realmente percebida, não só pela via do intelecto, mas também e sobretudo por meio de nossa sensibilidade.Nós temos acesso a ela em nosso cotidiano, toda vez que ouvimos uma música com o coração, toda vez que podemos contemplar a beleza de um canto e sentir a alegria profunda que ele nos transmite.Nós também somos capazes de percebê-la em um gesto carinhoso de alguém que amamos, e podemos experimentá-la quando esta pessoa ternamente se aproxima de nós.Podemos, do mesmo modo, senti-la concretamente ao recebermos uma notícia inesperada, que venha nos trazer uma boa surpresa, uma graça que alcançamos, algo que nem havíamos imaginado acontecer.Esta Bondade se revela ainda nos progressos da Ciência, em todos os mecanismos de interação entre o homem e a natureza, e em todas as leis que regem o funcionamento do universo.Além disso, nos sentimos envolvidos por este atributo de Deus quando nos percebemos capazes de criar, quando nossa criatividade se aflora, fazendo-nos co-criadores do que existe no mundo.A princípio, tendemos a pensar que a Suprema Bondade está presente em algumas situações, mas não em outras. Assim, classificamos os fatos, segundo nossa percepção limitada, como "bons" ou "ruins", e compartimentamos a ação de Deus a respeito deles. Temos, pois, uma visão distorcida, já que a Bondade divina nunca diminui nem se fragmenta. Ela se faz presente mesmo naqueles acontecimentos que nos pareçam completamente desoladores. Uma situação aparentemente ruim ocorre apenas para que o Bem possa se manifestar, para que depois possamos compreender com clareza a importância daquele fato, a partir de uma visão de conjunto.Aqui neste mundo, entendemos a Bondade de Deus de uma forma bastante parcial, e aquilo que vemos são apenas seus reflexos. Em uma condição futura, poderemos purificar nosso olhar, e passarmos a ter uma visão plena, sem manchas nem distorções.De qualquer forma, nossa felicidade está intimamente ligada à nossa capacidade de nos conectarmos com o futuro, de modo a termos em mente o propósito pelo qual fomos criados.*Fabiana Bonilha, Doutora em Música pela UNICAMP, psicóloga, é cega congênita. E-mail: fabiana.ebraille@gmail.com