ZEZA AMARAL

Os recursos e os refluxos

17/11/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 14:34

O corpo exumado de Jango Goulart foi exibido ao distinto público brasileiro. Dilma Rousseff o recebeu em Brasília e o exibiu como um troféu e exemplo de democracia. Nada mais petista do que isso. Jango foi o principal responsável, porque líder político eleito pelo povo, pelo golpe de 64. Vivi esse tempo e dele sou testemunha viva e civil. Jânio e Jango foram dois malucos políticos, ambos navegando em torno de seus próprios umbigos políticos. O resto está escrito por aí, nos anais da sarjeta da história brasileira, na democracia violentada por militares ignorantes e sem nenhum preparo republicano. O resto é retórica. Pura e simples.E bem devo dizer que ninguém na época levantou uma única sílaba para proteger a nossa Constituição. Nem poetas, nem jornalistas, nem políticos, ninguém saiu em defesa da nossa Constituição. E quando o fato se consumou, e se revelou uma tirania, já era tarde para se fazer alguma coisa, a não ser pedir perdão a si mesmo e sair atrás de uma desculpa pessoal ou, como aconteceu, de fazer um faz de conta ajustado para mostrar ao mundo que o Brasil estava em paz e dividido em dois partidos: Arena e MDB.Sarney, Maluf e alguns outros sobreviventes políticos — e biológicos — daqueles tempos ainda mandam no Congresso e, portanto, na política nacional. Procriaram suas bactérias nefastas desde então e seus valores são fielmente seguidos pela esmagadora maioria dos que pretendem se eleger representantes do povo, pois bem sabem que serão protegidos pelos seus pares, o que é muito próprio do corporativismo existente nas quadrilhas que não se intimidam diante dos limites impostos no Código Penal.A Justiça falha quando tarda. E mais tarda quando falha. E mais falhará e tardará quando seus réus terão suas chicanas respeitadas, embora criticadas e, pasme, sendo tese a ser defendida por um ministro (Ricardo Lewandowski) que se unge de pruridos republicanos para defender o que é indefensável — o que é uma vergonha para os que estudam Direito e que se dedicam ao espírito da lei.O próprio presidente do STF, Joaquim Barbosa, já disse que não aceita mais “firulas”, “chicanas”, dos advogados de defesa e mesmo assim vários ministros do Supremo insistem que os réus “merecem ampla defesa”, como se tal processo tivesse sido aberto há poucos dias e não em 2005, oito anos atrás! Sem dúvida, o que é muito sério, devo dizer, o Judiciário não apenas se politicou como, também, se partidarizou. Nada que uma reforma judiciária desse jeito, é claro; além de uma reforma política, na busca por um regime distrital.Já tenho vergonha o suficiente para ver figuras públicas sendo condenadas por roubar o dinheiro público e isso parece não bastar a alguns ministros do STF que ainda acham que réus exaustivamente investigados e analisados possam ainda merecer crédito em suas defesas. Enjoam-me tais considerações e aguardo que a maior Corte do País defina as penas já definidas; ou se devo, agora mesmo, derrubar as minhas entranhas no sofá de casa. Afinal, políticos eleitos sendo condenados por assaltar os cofres da nação devem até mesmo envergonhar o diabo que não tem nada com isso. A conferir.Bom dia.

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