Não chegam a ser milagres. São graças, graças divinas, verdadeiros sinais do Céu, que nos surpreendem no dia a dia, deixam-nos perplexos, agradecidos... e curiosos para saber como acontecem em nossas vidas. Faça uma reflexão, volte um pouco para dentro de você, e observe se já não lhe sucedeu, pelo menos uma vez, uma dessas pequenas graças. Você já não se pegou dizendo para seus botões: “Dessa, escapei por uma graça da Virgem!”? Ou, “Graças a Deus, eu consegui isso ou aquilo”? Ou, ainda, “Maria, passa na frente!”, e ela passou mesmo, ajudando-o a sair de uma situação difícil? Pode crer, essas são as pequenas graças, que já aconteceram comigo, acontecem com o nosso vizinho, com os amigos, com os colegas de trabalho que você nem conhece bem, mas que lhe contam suas histórias, perplexos, nas rodinhas de bate-papo, na hora do café. Uma situação assim passou com a mulher de um familiar bem chegado a nós: ela, uma vez, viajava para a Itália, onde o marido a esperava após um mês de compromissos de trabalho. Seu voo não era direto: precisava fazer um escala em Paris, no Charles De Gaulle. Caminhando sozinha dentro daquele grande aeroporto, somente com alguns minutos para o novo embarque e sem falar uma palavra de francês ou inglês, de repente, sentiu-se perdida naquele mundo estranho. Não conseguia descobrir o gate da Alitalia, que a levaria para Nápoles, destino final da viagem. Pediu socorro. Não é que, ao lado, sentiu que alguém lhe tocava levemente o braço e lhe sugeria seguir seus passos? Era um jovem de olhos claros e ótima aparência, que lhe sorria, sem dizer qualquer palavra, mas que, apressadamente, já corria com ela para andares superiores, seguia por esteiras rolantes, passava por saguões imensos, abria e fechava portas. A mulher chegou a pensar que estava sendo sequestrada. Enfim, o desconhecido a colocou frente a uma funcionária da empresa aérea italiana, que rapidamente a encaminhou para o embarque. Num último momento, quando a porta de acesso ao avião já se fechava, virou-se para, ao menos, agradecer àquela providencial “salvação”. Mas não viu mais o tal jovem. Desaparecera, misteriosamente. Que faria se perdesse a conexão. E suas malas, estariam no voo? A quem recorreria? Não foi uma graça divina? Conheço um sujeito que vivia sempre se queixando da vida. Certa vez, foi ao médico para uma consulta de rotina: como seu pai tivera - e morreu disso - problemas sérios na próstata, cuidava, periodicamente de saber como andava a sua saúde naquela área, fazia o tal do PSA, “aquele” toque danado... Exames feitos, foi informado de que tudo andava bem por ali. Mas, o seu médico, um profissional experimentado, percebeu que o nosso paciente apresentava certos traços de sangue na urina. Após uma tomografia, veio a “bomba”: ficou sabendo que tinha um tumor maligno nos rins, e que deveria extirpar logo a parte esquerda daquele órgão, onde o mal se situava, eliminando de vez o problema. Não foi uma graça, por causa de alguns exames de rotina, acabar descobrindo um desastre que se avizinhava e, assim, poder continuar seu caminho pela vida? Se não tivesse ido saber da sua próstata, talvez só descobrisse tudo tarde demais. Quantas vezes ficamos diante de uma encruzilhada: devemos ir para a direita, ou melhor para a esquerda... Tomamos essa decisão ou a outra, oposta; ficamos no nosso emprego ou nos aventuramos em direção ao desconhecido, arriscando tudo. Mais tarde, descobrimos a roubada em que nos meteríamos se fôssemos para o outro lado. Uma graça? No fim da vida, meu pai tinha uma situação financeira um tanto precária: muitos remédios, os custos crescendo e seu salário sempre na mesma. Quando a situação estava para lá de crítica, e nós todos tentando ajudá-lo o quanto podíamos, eis que o carteiro põe na caixa do correio de sua casa, em Campinas, um envelope pardo de um escritório de advocacia de São Paulo. Ele abre e se surpreende: era a comunicação de que estava sendo depositado em sua conta um bom valor em dinheiro, correspondente ao que tinha direito numa ação trabalhista de muitos anos atrás, da qual ele nem se lembrava mais. Estava salvo de suas aperturas: comprou um carro, um projeto sempre adiado, e foi feliz até o final de seus dias. Foi uma graça, um quase milagre? Lá em casa, acreditamos que sim.