As manifestações de rua em junho tiveram o dom de alterar o comportamento político na sociedade, impondo uma nova rotina de expressão popular e incorporando lances de um jogo de influência que se dilui pela multiplicidade das reivindicações dos diferentes grupos. As passeatas pacíficas que mobilizaram a grande maioria da população acabaram cedendo aos atos de vandalismo e intolerância, que empanaram o brilho cívico e transformaram as ruas em palco de selvagens protestos, identificados ainda como um movimento articulado para desmerecer e desmotivar as manifestações contra o governo e os políticos em geral. O ânimo desfraldado nas primeiras vezes em que as ruas foram tomadas pelos cidadãos acabou arrefecido, diante do medo e da discordância dos rumos que as mobilizações estavam tomando.Parte do jogo da democracia, as diferentes formas de protesto devem ser respeitadas, desde que sejam organizadas, claramente identificadas, com propósito e objetivo. Os baderneiros mascarados não passam de grotescos grupelhos mal-intencionados que se prazem em semear o medo e a destruição. Em nada contribuem para o processo democrático e pelo grande debate que toma conta do País. São bandidos e como tal devem ser tratados.Em parte, estes pequenos grupos atingiram um grande efeito negativo. Os desfiles comemorativos da Independência do Brasil já não contarão com a participação do contingente da Polícia Militar do Estado de São Paulo, obrigado a centrar sua atenção aos possíveis distúrbios e atos de vandalismo que se podem prever em algumas localidades. A experiência traumática das últimas manifestações em Campinas justifica o caráter preventivo adotado. Ao mesmo tempo, algumas escolas, entidades e instituições acenam com a desistência da participação do desfile, receosos de envolverem crianças e jovens em eventuais confrontos e atos de violência. Com isso, esvaziou-se parte do caráter cívico da celebração (Correio Popular, 6/6, A4).É lamentável que a manifestação em memória da Independência do Brasil seja manchada justamente pela opressão de grupos violentos, pela intolerância ou pelo domínio da baderna fora de controle. Há aqueles que até criticam a forma de comemoração e a estes se deve dar o direito de não participar. Mas impor um retiro involuntário por ameaças é um gesto de extrema violência, que não cabe no Brasil se liberdade que se busca e não pode se tornar uma rotina indesejável.