opinião

Os primeiros 45 dias do governo Bolsonaro

Reinaldo Dias
15/02/2019 às 11:34.
Atualizado em 05/04/2022 às 00:13

Julgar um governante nos primeiros 45 dias de seu mandato é prematuro. No entanto, diante da urgência que exige a conjuntura delicada que enfrentamos é oportuno examinar a incipiente gestão de Jair Bolsonaro pelos sinais que enviou até agora o que ajuda a identificar um estilo e o comportamento em relação aos desafios que aparecem no caminho. O primeiro grande desafio do novo governo foi a indicação de seu gabinete e, neste sentido, aos olhos da opinião pública houve erros e acertos. Sem dúvida, os acertos vão para o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que já apresentou propostas de lei anticrime a ser submetida ao Congresso e que visa coibir a corrupção, a criminalidade e aos crimes violentos. Acerta também na indicação do Ministro da Economia Paulo Guedes, que vem acenando com a aprovação da Reforma da Previdência e a liberalização da economia. Ambos ministros defendem pautas que se tornaram promessa de campanha de Jair Bolsonaro. A indicação dos ministros militares é vista com cautela pela sociedade, nem aprovação incondicional, nem criticas de monta. A expectativa é de que introduzam mais profissionalismo no trato da coisa pública. Há ministros que ainda não mostrarem a que vieram, não apresentaram propostas elaboradas para sua pasta e causam polêmica devido a recentes declarações. Estão neste caso o Ministro da Relações Exteriores Ernesto Araújo, o da Educação Ricardo Vélez Rodríguez e a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Os demais ministros mantém posição discreta até o momento sem se envolverem em polêmica desgastante e também sem apresentar claras propostas de governo. Quanto à figura presidencial, os brasileiros estão se acostumando a um mandatário que surpreende pela inexperiência no trato de assuntos de Estado e com suas intervenções intempestivas, demonstra certa improvisação o que com frequência resulta em recuos que alimentam incertezas em algumas áreas com a das relações internacionais e do meio ambiente. Mas se deve reconhecer que nestes primeiros dias ficou limitado pela necessidade de cuidar do ferimento decorrente do atentado que o colocou ausente durante boa parte do período. Mesmo assim, dando prosseguimento a uma de suas principais promessas de campanha, o atual inquilino do Palácio da Alvorada, pelo menos até o momento, estabeleceu uma relação com o Congresso que não depende do famoso toma lá, da cá, característico da política brasileira. O amplo apoio obtido até agora dos parlamentares indica a possibilidade do avanço das propostas de Reforma da Previdência e do Pacote anticrime além de outras medidas que necessitam do respaldo do Legislativo. Mas para que esse apoio se mantenha é essencial que o próprio Bolsonaro encabece a discussão e isso passa pelo convencimento da população sobre a necessidade das reformas. A intervenção presidencial direta é essencial bem como o apoio de todo gabinete, que tem um perfil opaco, mais técnico e que não se traduz em maior conexão com o parlamento e a população. Merece um tópico à parte o desempenho do Vice-Presidente General Hamilton Mourão representando cada vez mais claramente o estamento militar no governo. Ele tem adotado posições que confrontam muitas vezes com a do Presidente e seus filhos. É o caso da mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, a questão do aborto, a postura em relação as questões de gênero, a ideia de permissão para a instalação de uma base americana em território brasileiro entre outros. O maior problema enfrentado pelo Governo Bolsonaro nos seus primeiros dias não está na oposição. Seus filhos que a todo momento confundem o privado com o público tem interferido no governo de tal modo que são a maior fonte de instabilidade neste começo de administração. Utilizam as redes sociais para desgastar membros o governo dos quais discordam e interferem indevidamente em ações de ministros emitindo opiniões públicas que desgastam a imagem do próprio pai perante aliados antigos e novos. Caso Jair Bolsonaro não controle seus filhos o governo tende a se caracterizar cada vez mais como uma extensão pública de posições familiares. A ala militar tem se posicionado claramente contrária às ações dos filhos e em geral emite opiniões que visam a amenizar a política de confronto adotada por eles. Em todo caso, ainda é cedo para conclusões. Vamos rever a situação ao completar cem dias como é tradição na análise política.

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