Os papudas do Brasil

O Brasil é o único País onde floresce a jabuticaba, Pelé e Paulinho da Viola. Mas na última quarta-feira, ficamos sabendo que a Câmara Federal inventou o parlamentar-presidiário: condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 13 anos de xilindró por peculato e formação de quadrilha, o deputado-ladrão Natan Donadon (ex-PMDB-RO) foi absolvido pelos seus pares e se tornou o primeiro deputado-prisioneiro na história republicana do Brasil.É certo que 233 deputados votaram, secretamente, pela perda do seu mandato (eram necessários 257 votos, a metade mais um); mas 131 acharam que ele não fez nada; 41 simplesmente se abstiveram; e 108 faltaram à sessão — e muitos deles foram fotografados assistindo a um jogo de futebol na tevê da sala do cafezinho.Os petistas, como sempre, comandaram o show de horrores: 20 deles faltaram, seguidos por 15 do PMDB, 12 do PP, 10 do PSD, 8 do PR, 6 do PSB, 6 do PSDB, 6 do DEM, 3 do PDT, 2 do PS do B, 2 do PPS, 2 PSC, 2 do PTB, e PV, PMN, PRB e PTdoB entraram cada um com mais um covarde republicano.O raro leitor que me perdoe a chatice de tantos números e siglas, mas deu um trabalho danado pesquisar com quem a gente pode contar na Câmara Federal para que a vergonha se instaure na Casa do Povo, o que é impossível, visto que tal procedimento é tão indecoroso que a Casa se acha no direito de fazê-lo secretamente.É certo, por exemplo, que José Genoíno e Romário faltaram à sessão por estarem hospitalizados. E é também do jogo safado da política que aliados governistas votem com o partido que governa o País, o PT, embora tal posição mais se assemelhe a quem tem dobradiças na espinha dorsal. Mas o que dizer da ausência dos partidos de oposição, PPS, PSDB e DEM, hein? E conhecendo bem o jogo que eles jogam bem, é possível que tudo tenha sido muito bem conversado antes.Sem dúvida é inacreditável que um ladrão eleito deputado seja absolvido pelos seus pares, mesmo que 233 deles o tenham condenado. O fato é que um grande circo corporativista foi armado para livrar a cara de um que, a grosso modo, personifica a maioria dos deputados que compõem a Câmara Federal: estão lá porque também respondem a processos criminais e precisam de certas imunidades, mais precisamente de seus pares politicamente desavergonhados.Ou preciso explicar aqui que Paulo Maluf e Gabriel Chalita, o mais velho e o mais novo, ambos com mais processos no lombo, também se ausentaram da sessão e contribuíram assim para uma indecência política jamais vista até então? E o que dizer dos 41 deputados que não viram nada demais na condenação do colega Natan Donadon e acharam por bem se absterem do voto? Mesmo assim, foram menos calhordas do que os 108 deputados — com as exceções de praxe (me dá nó nas tripas escrever isso) — que faltaram à sessão, a um cumprimento cívico que bem juraram cumprir quando foram diplomados.Diante de tal descalabro, aguardo que todos aprovem uma lei designando a Penitenciária da Papuda como um anexo da Câmara Federal. Afinal, alguns outros ladrões deputados-papudas estão em vias de pra lá transferirem seus gabinetes: Waldemar da Costa Neto, João Paulo Cunha e José Genoíno. Talvez possam, também, aprovar uma verba de gabinete para contratar o ladrão José Dirceu, o chefe da quadrilha do mensalão, que poderia em tempo integral prestar assessoria a todos eles, condenados ou em vias de.E, meu raro leitor, o que mais me assombra é a resistência das tripas nacionais quanto a mais esse indigesto alimento democrático que nos foi oferecido. E mais ainda, constatar que as manifestações dos jovens de junho perderam o encanto para eles, assim como as crianças abandonam um brinquedo do qual enjoaram. E é isso o que mais me machuca.Bom dia.