CARLO CARCANI

Os escândalos que não surpreendem

Carlo Carcani
24/06/2015 às 23:38.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:47

Gravações de conversas telefônicas que vieram a público nos últimos dias insinuam que o ex-presidente da Federação Argentina, Julio Grondona, teve influência na escala do árbitro paraguaio Carlos Amarilla no jogo Corinthians x Boca Juniors, pela Libertadores de 2013. A atuação de Amarilla foi desastrosa e teve influência direta na eliminação do Corinthians. O trecho que teve maior repercussão no Brasil foi o que se refere a essa partida, mas o canal América TV revelou outras conversas, nas quais Grondona fala sobre sonegar impostos, manipulação do resultado do jogo Colón x Argentinos Juniors (com o objetivo de evitar o rebaixamento do Independiente) e sobre suas estreitas relações com um empresário que se entregou à polícia italiana no início do mês. O cidadão é suspeito de envolvimento no caso de corrupção que abalou a Fifa. Ninguém fica surpreso ao ouvir conversas como essas e esse é o grande problema. Os clubes geralmente são as vítimas dessas maracutaias, já que o dinheiro desviado para cobranças de propina deveria ser destinado a eles. Quando o assunto é esquema de arbitragem, a vítima também é um clube. Mas os times não são os únicos prejudicados. O futebol perde muito com essa percepção de que os homens que deveriam gerenciá-lo na verdade se preocupam apenas em destruí-lo. Erros de arbitragem são naturais porque o jogo está cada vez mais rápido, o que dificulta o trabalho do juiz. Além disso, a tecnologia das transmissões é espetacular e a TV pega erros que antigamente eram imperceptíveis. Isso acontece, é normal, mas com tantos escândalos pipocando por aí (corrupção na Fifa, máfia das apostas, cartola que “indica” árbitros, etc), o torcedor tende a achar que qualquer erro contra seu time foi premeditado. E isso é péssimo para o futebol. A sensação de que tudo é manipulado pode ter efeitos devastadores no esporte, diminuindo o interesse de milhões de fãs. E afastando os fãs do futuro. A Fifa precisa mudar esse quadro. O primeiro passo, claro, deve ser a troca dos dirigentes e dos antigos hábitos de se cobrar propina a cada contrato com a TV, patrocinadores e organizadores. E de vender o voto por milhões de dólares em cada eleição para sede da Copa do Mundo. Depois disso, é recomendável que se invista na recuperação da credibilidade do futebol. As grandes ligas precisam ter cinco árbitros, ajuda eletrônica e tudo o que for possível para minimizar os erros de arbitragem. O erro faz parte do futebol. O roubo, não.

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