CARLO CARCANI

Os dois caminhos do Guarani

Carlo Carcani
carlo@rac.com.br
27/05/2014 às 19:08.
Atualizado em 24/04/2022 às 12:13

O Guarani venceu apenas uma partida na Série C. Foi na terceira rodada, em Americana. Mesmo com um jogador a menos, o time lutou até o fim e conseguiu segurar o resultado de 1 a 0 contra o Macaé. Após a partida, ao invés de enaltecer o esforço de seus atletas (que estão trabalhando sem receber desde que chegaram ao Brinco de Ouro, há um mês e meio), o presidente Álvaro Negrão preferiu agradecer a colaboração de um índio caboclo, desenhado na entrada do clube nos anos 70.Não se discute aqui a crença de cada um. O porteiro, o ponta-esquerda, o massagista, o técnico, o torcedor e o diretor podem acreditar naquilo que bem entenderem e ninguém tem nada a ver com isso. Mas com um clube é diferente.Álvaro Negrão ficou tão entusiasmado com a sua fé no poder do índio que, além de cometer o erro de dar a ele o crédito pela única vitória do time, ainda teve a péssima ideia de desenhá-lo no uniforme.A estreia foi na segunda-feira, contra o Guaratinguetá. Espero que o presidente não esteja decepcionado com os seus atletas. Afinal, ao mesmo índio que ajudou na vitória sobre o Macaé deve ser creditada a atuação desastrosa no Décio Vitta. O índio perdeu por 5 a 1 para um time que ainda não tinha vencido nenhum jogo e cuja média de gols, até então, era de apenas 0,75 por jogo.Além de expor a instituição que preside ao ridículo, o dirigente cometeu outros erros ao bordar um símbolo religioso no uniforme.Quem acompanha um pouquinho de futebol, já ouviu histórias sobre problemas de vestiário provocados por religião. A fé pode ajudar em algumas situações, mas também pode rachar elencos em outras.Ao escolher um símbolo espírita para o uniforme do time, Álvaro pode ter gerado um desconforto em jogadores de outras religiões. Isso é tão óbvio que não sei como o dirigente insistiu em levar sua ideia adiante.Existem outros bons motivos para condenar a decisão do clube. A Fifa é bem clara sobre o assunto. Um trecho de seu regulamento diz: “O uniforme não pode conter quaisquer declarações políticas, religiosas ou pessoais”. É bem claro, é conhecido, mas, ainda assim, o Guarani entrou em campo com o índio caboclo no peito.Por fim, lamento que, além de não respeitar o credo de cada um de seus atletas e torcedores, o Guarani não demonstre o mesmo empenho para colocar outras coisas no seu uniforme.Um patrocinador master, por exemplo, ajudaria o clube a pagar os salários.No ano passado, o clube foi humilhado em diversas transmissões pela TV, já que seus reservas só tinham camisas até o número 18. Depois, pulava para improvisados números 121, 131, 141...O Guarani passou meses sem achar uma solução para esses problemas, mas, em poucos dias, conseguiu pintar o índio caboclo na camisa. Tomara que a humilhante derrota de 5 a 1, ao menos, sirva para mostrar ao Guarani qual caminho ele deve seguir: o do amadorismo folclórico-religioso ou o do profissionalismo. Um deles pode levar o clube à Série D. Acho que não preciso dizer qual.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por