PADRE JOSÉ ARLINDO DE NADAI

Os calvários

Há muitas cruzes plantadas no chão da vida de nosso povo. São tantas que, às vezes, tropeçamos nelas

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25/03/2016 às 17:30.
Atualizado em 23/04/2022 às 01:21

“Chegando ao lugar chamado Calvário, lá o crucificaram” (Lc 23,33). Ainda hoje, em peregrinação à Terra Santa, você pode visitar e venerar esse lugar, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. Quantas vezes ouvimos as pessoas, em sofrimento, dizerem: estou vivendo um calvário. Nós mesmos, por que não, podemos ter o nosso calvário. Há muitas cruzes plantadas no chão da vida de nosso povo. São tantas que, às vezes, tropeçamos nelas. Nos dias que correm a surpresa da cruz do terrorismo; a cruz peregrina dos migrantes, cujo símbolo maior é o corpinho da criança que jaz morta por afogamento, na areia da praia, o Aylan. A violenta cruz das guerras, a cruz escondida dos refugiados em seus campos. Cruzes espalhadas nos calvários de nosso vasto e conflitivo mundo. A cruz da crise política que paralisa nosso País. A dolorosa cruz da corrupção. Contudo, quem de nós não se depara, no dia a dia, com o calvário do sofrimento humano dos doentes em suas casas, nos hospitais ou nas UTIs; ou dos idosos, deslocados de seu lar onde viveram e criaram sua família; de crianças abandonadas; de mulheres marginalizadas; das pessoas em situação de rua, enxotadas de um lado para outro cuja resistência é admirável; os dependentes de drogas e os milhares de presos, reconhecidamente vivendo em condições sub-humanas, degradantes, amontoadas em aglomerações e até submetidos a outros tipos de tortura. Há cruzes que são existenciais por conta da condição humana, limitada e finita. Porém, há muita cruz e muitos calvários por força da maldade, da ganância, do egoísmo e do pecado do homem. Na Sexta-feira Santa, somos, sim, convidados a acompanhar Jesus na sua via sacra até o Calvário. Contemplamos assim, no seu sofrimento, seu grande amor por nós. A paixão e morte de Jesus resultaram da coerência de sua vida de profeta que denunciou o sistema religioso do Templo, feito comércio e por vingança foi acusado de ameaçar e ser um perigo para o Império Romano. Logo Ele que entrou em Jerusalém montando um pacífico jumentinho de carga! Foi condenado por uma aliança do poder religioso, Anás e Caifás com o poder político, Herodes e Pilatos. Comovente é a filial oração do horto: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice” (Lc 22,42) Ensurdecedor é o brado de Jesus no calvário da cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? ” (Mt 27,46) Ensurdecedor, mas não desesperador, pois, este clamor logo é seguido de outro de absoluta confiança: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 27,46) Na Sexta-feira Santa, o horizonte de nosso olhar se abre para contemplar também o calvário das cruzes de nossos irmãos e irmãs. Contemplamos, nos rostos sofredores deles, “o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo neles” (D.Ap. 393) Todavia, às trevas da Sexta-feira da paixão, sucede a luz da madrugada da Ressurreição, que se derrama, qual manto, abraçando todos os calvários. Esta é a fé e a esperança que professamos. E assim caminhamos com o Senhor dos Passos, de esperança em esperança.

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