Via se chamava São José, mas mudou de nome em referência à abolição da escravatura
São nove quarteirões que começam na antiga estação ferroviária (Janaína Maciel/ AAN )
Ícone campineiro, onde o antigo e o moderno se contrapõem de forma harmoniosa, a Rua 13 de Maio completa 125 anos. A via nasceu bem antes, mas recebeu essa denominação por causa da abolição da escravatura. Ao longo desse tempo, sofreu transformações. Atraiu a atividade comercial com a inauguração da ferrovia, que antes era centralizada na Rua do Comércio, a Rua do Meio, atual Rua Dr. Quirino.
Hoje, é um shopping ao ar livre, tomadas as devidas proporções, por causa da falta de banheiros públicos e da segurança. Além da importância financeira, o calçadão representa a memória cultural-histórica de Campinas, por onde passaram os primeiros bondes e que preserva prédios tombados, como a Catedral Metropolitana.
Fotografada ao longo do tempo, com imagem estampada em cartão-postal em 1910, a Rua 13 de Maio foi tema da tese de mestrado de Patrícia Rodolpho, doutora em artes visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela colheu informações e fotografou a rua de 2001 a 2004, quando defendeu a tese A rua em imagens: as transformações urbanas na fotografia. Um estudo de caso sobre a Rua 13 de Maio, em Campinas.
Para Patrícia, quatro edificações compõem a trajetória histórica dessa rua: a Catedral de Campinas, a Estação Ferroviária, o Teatro Municipal (demolido) e o casarão Roque de Marco. Ela lembra que a rua, palco atual de constantes manifestações e visitas de figuras ilustres, sempre foi popular, como atesta, em 1903, a passagem de Alberto Santos Dummont pela via.
“Sua tradição e a pluralidade de lojas instaladas em seus nove quarteirões a qualificam como a principal artéria do comércio de Campinas”, afirma Adriana Flosi, presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) e da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campinas (CDL).
A vocação varejista da via pública — com seus atuais 124 estabelecimentos — ultrapassa as fronteiras do município, atraindo pessoas de toda a região. “Sua história está atrelada às mudanças comportamentais ocorridas em Campinas, do período que a região central era sinônimo de status e sofisticação até os dias atuais, quando o Centro denota um caráter mais abrangente e popular.”
A Rua 13 de Maio sempre manteve seu inegável potencial econômico, vislumbrado tanto por grandes marcas como por pequenos comerciantes que ali se instalaram há décadas e até os dias atuais permanecem fiéis às suas raízes, segundo Adriana.
“O calçadão da 13 é um grande centro de compras a céu aberto que reúne um mix de comércio em seus mais de 700 metros de extensão.”
O economista Laerte Martins, da Acic, diz que pelas ruas 13 de Maio e Costa Aguiar circulam 95 mil pessoas diariamente (média anual), sendo que, nas grandes datas, como Natal e Dia das Mães, esse número chega a até 150 mil. “Ela tem tendência a atender a todas as classes sociais, destacando as classes C, D e E.”
A Rua 13 de Maio representa hoje 8% do faturamento total do comércio varejista em Campinas, cerca de R$ 1,2 bilhão, segundo Martins. O comércio emprega 92,1 mil trabalhadores, sendo que, na Rua 13 de Maio, esse contingente atinge 7,4 mil. Após a revitalização do Centro, a infraestrutura dela evoluiu positivamente, assim como as fachadas das lojas, que modernizaram o aspecto visual da rua comercial.
“A 13 de Maio é a testemunha viva do crescimento pujante do comércio em Campinas”, afirma Sanae Murayama Saito, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Campinas e Região (Sindivarejista). “Basta olhar até onde nós chegamos. Somos uma metrópole de grande importância graças também a esses nossos pioneiros da 13 de Maio, tais como lojas Paratodos, Ceccato, Centro dos Alumínios Bittar, Loja Europa, Relojoaria Chinellato e muitos que deixaram saudades.”
Para o Sindicato dos Empregados do Comércio de Campinas (Seccamp), a Rua 13 de Maio foi, durante muitos anos, o principal centro de comércio de Campinas e região. Hoje, segundo a entidade, sofre a concorrência dos grandes shoppings, mas ainda é muito querida pela população. Acrescenta que o perfil dos comerciários que atuam no local é de jovens e pessoas com mais experiência no comércio, com famílias de várias procedências.
“Ela representa a diversidade comercial e cultural de Campinas”, diz Catarina Bicudo, do Seccamp.