Os hábitos incorporados na vida pública são, no mais das vezes, reflexo do quanto a sociedade se preocupa em preservar seus valores morais, seus direitos e o sistema que estabelece compromissos, responsabilidades e obrigações. É corrente que a corrupção se entranhou no meio político qual erva daninha sem controle, mas no fundo sabe-se que os envolvidos em escândalos, em última análise, ainda representam parcela significativa dos eleitores que fazem vista grossa para os desvios e sustentam seus votos.
Todo balanço da observação sobre o desempenho de políticos esbarra na realidade da constatação de que podem ser avistados sinais de que as dificuldades e os problemas superam as boas intenções. Em cada ato realizado no setor público, parece que se pode identificar uma intenção subliminar, um desvio de função, uma mordomia indevida, uma distorção do sentido de servir à sociedade.
A Câmara de Vereadores de Campinas, a exemplo das de todos os municípios, experimenta um momento de renovação, de cumprimento de novas expectativas, de esperança de que as esperadas mudanças possam começar a ser efetivamente incorporadas, de forma a moralizar e resgatar o caráter do serviço à comunidade. Um balanço dos primeiros dias da nova legislatura aponta para alguns vícios que insistem em se manter e retardar as tentativas de se criarem novos parâmetros para o trabalho dos vereadores.
Os primeiros cem dias no Legislativo campineiro foram marcados por polêmicas que seriam dispensáveis se fosse considerada a força da opinião pública que cada vez mais se faz ouvir diante dos disparates na vida pública. O desnecessário episódio da compra de lanches para os vereadores, a cobertura de despesas de viagem, a extensão do pagamento do tíquete a comissionados e a suspeita de cobrança ilegal de taxa de uso de campo público não apenas mancham a imagem já desgastada do Legislativo como acenam para um mau começo (Correio Popular, 15/4, A6).
As respostas não poderiam ser diferentes. O lanche foi cancelado, o ressarcimento das despesas irregulares de viagem foi negado, o tíquete dos comissionados foi bloqueado e, em tempo, a denúncia contra o vereador por tirar proveito de uma área pública será investigada pela Corregedoria. É o mínimo que se espera, mas é importante observar que são fatos e feitos que deveriam ser abortados de início e não passar de intenções. Mais do que nunca, a sociedade cobra e exige lisura e transparência na vida pública.