Constrangida com a situação delicada do Legislativo campineiro, Debora Palermo, que assume a presidência da Casa interinamente, observa o colega Zé Carlos, ao fundo (Kamá Ribeiro)
Com mais de 200 anos de existência, a mais antiga instituição do Poder Público municipal passa por um período de transformação, que exigirá de cada parlamentar uma profunda reflexão sobre o seu papel diante da sociedade. Primeira mulher a presidir a Câmara de Campinas, a vereadora Debora Palermo (PSC) assume interinamente o comando da Casa de Leis, que enfrenta uma crise de credibilidade institucional sem precedentes. Em meio à turbulência política deflagrada pelas denúncias de corrupção envolvendo o presidente afastado Zé Carlos (PSB), a parlamentar terá a missão de resgatar a imagem do Legislativo, resvalada pelos últimos escândalos que vieram à tona com a entrega ao Ministério Público de gravações de conversas nebulosas entre o vereador de Aparecidinha e um empresário, com auxílio de seu fiel escudeiro e braço direito nas negociações, eivadas de pedidos de pagamentos indevidos e nada republicanos. Soma-se a isso os inquéritos que investigam a prática de rachadinha envolvendo vários parlamentares, inclusive o próprio Zé Carlos.
Em sua época, Nicolau Maquiavel advertia que toda ação maliciosa do poder era exercida pela violência armada. Hoje, o comportamento malicioso se manifesta pela corrupção. O autor de O Príncipe era realista. O realismo não é interpretado como conformidade, mas sim como lógica. Para mudar a realidade é preciso primeiro compreendê-la. Maquiavel defendia a liberdade, porque mostrou como se proteger de governantes corruptos. Quanto a isso, o filósofo florentino dizia que o soberano precisava de uma fortaleza, que deveria ser edificada com a alma dos súditos, uma vez que as fortificações materiais não poderiam salvar um monarca odiado pelos vassalos. De fato, é de pouca utilidade a um governante esconder-se em um castelo ou cercar-se de milícias armadas, considerando-se que não há barreira contra a ira popular. Melhor aliar-se ao povo do que ofendê-lo e correr o risco de ser destronado.
Debora, como primeira mulher a presidir o parlamento campineiro, terá a oportunidade histórica de aplicar os ensinamentos de Maquiavel e trabalhar para restituir a confiança da população ou ignorar os seus conselhos e repetir os mesmos erros do passado. Qual caminho ela seguirá? Caberá a ela decidir. Urge, no entanto, melhorar a produtividade da Casa, apresentando projetos de lei verdadeiramente comprometidos com as demandas locais, reduzir o excesso de honrarias, filtrar indicações, requerimentos e moções inócuas e valorizar a participação popular na discussão das pautas de interesse da coletividade. Nos momentos de crise surgem as oportunidades, que devem ser agarradas com sapiência, honra e equilíbrio. A história julgará.