Trem de Alta Velocidade

A notícia de que o projeto de construção do Trem de Alta Velocidade (TAV), ligando a cidade do Rio de Janeiro a São Paulo, será retomado sem contemplar uma ligação com a cidade de Campinas desanimou os moradores e as autoridades de nossa região. A nova proposta do projeto apresentado na Agência Nacional de Transportes Terrestres contempla apenas quatro estações: Rio de Janeiro, Volta Redonda (RJ), São José dos Campos (SP) e São Paulo.

Conceito original 

Não foi divulgada a razão pela qual a cidade de Campinas foi excluída do projeto, cuja linha férrea deverá ter cerca de 400 km e tem julho de 2032 como data alvo para início de operação. No conceito do projeto original, de 2009, a linha do trem de alta velocidade ligaria o aeroporto de Viracopos até o Rio de Janeiro, passando por São Paulo.

FRASE

"O trem não só transporta pessoas e mercadorias, mas também ideias, inovações e cultura"

Haruki Murakami, escritor japonês 

Viabilidade

Para que qualquer projeto seja levado adiante, é preciso que a expectativa dos fluxos de caixa gerados supere o valor do investimento, compensando o risco que o empreendedor está assumindo ao realizar o investimento e ainda remunerando o custo do capital empregado. Dentro do custo de capital, inclui-se tanto o custo do financiamento empregado como o retorno esperado pelos investidores privados.

Retorno

À primeira vista, não parece que a interligação de Campinas a São Paulo através do TAV tenha um baixo potencial de geração de retorno. Muito pelo contrário. O movimento das rodovias que ligam as duas cidades está aí para comprovar essa tese. Pode-se até cogitar se não existiriam mais pessoas interessadas em realizar o trajeto Campinas-São Paulo de maneira frequente do que pessoas fazendo o trajeto São Paulo-Rio de Janeiro. 

Fluxo

Somente neste carnaval, o sistema Anhanguera-Bandeirantes registrou um fluxo de mais de 1 milhão de veículos. Em períodos normais, o fluxo no sistema Anhanguera-Bandeirantes chega a 170 mil automóveis por dia, nos dois sentidos. Com uma média de 1,6 pessoas por veículo, chega-se a 270 mil pessoas transitando entre Campinas e São Paulo diariamente. Uma parte dessas pessoas certamente poderiam optar pelo TAV, portanto, demanda há.

Risco

Em relação ao risco, não há nenhum motivo para supor que construir o trecho Campinas-São Paulo seja mais arriscado do que o trecho São Paulo-Rio de Janeiro, que facilmente terá bem mais obstáculos tanto do ponto de vista topográfico como ambiental. Assim, o investimento no trecho Campinas-São Paulo dificilmente pode ser considerado mais arriscado ou oneroso do que o restante do projeto, em termos do investimento necessário por km.

Trajeto

Por outro lado, embora não seja nenhum especialista no assunto, vejo com muito ceticismo a possibilidade de que a linha do TAV ou de qualquer outra ferrovia possa ser instalada no canteiro central da Rodovia dos Bandeirantes. E mesmo que seja tecnicamente possível essa instalação, dificilmente o trem poderia se locomover em alta velocidade seguindo aquele trajeto.

Itália

A título de comparação, vejamos a Itália, país que possui uma vasta malha ferroviária, incluindo trens de alta velocidade (Italo e Frecciarossa) e trens regionais. A viagem entre Milão e Turim, dois dos maiores centros econômicos da Itália, distantes 140 km um do outro, dura 1 hora nos trens de alta velocidade, que não podem operar em velocidade máxima nos trechos urbanos. O custo do bilhete varia entre 15 e 25 Euros (cerca de R$ 85 a R$ 140), por trecho, em classe econômica.

TIC

A implantação do TAV seria uma grande oportunidade, mas de qualquer forma, uma alternativa ao TAV é a construção do TIC (Trem Intercidades), uma ferrovia moderna que interligue as cidades do interior paulista à capital. Esse projeto pode servir às pessoas que precisam transitar entre essas cidades de maneira tão eficiente quanto o TAV, contribuindo para o deslocamento das pessoas e o desenvolvimento econômico da região.