A alta dos juros tem sido a tendência da economia mundial para enfrentar a subida dos preços (Reprodução)
O nível da taxa de juros continua sendo o centro das atenções, gerando discussões intermináveis onde se questiona se a taxa Selic foi elevada de maneira adequada ou se o Banco Central e seus dirigentes forçaram a mão e exageraram na dose. O fato é que os juros estão no nível mais alto dos últimos seis anos (13,75% ao ano), a inflação acumulada nos últimos 12 meses está em 5,77% ao ano e continua acima do teto da meta e o endividamento da população disparou.
Forma clássica
Segundo a linha econômica mais ortodoxa, a forma clássica de combater a inflação é através da alta dos juros, método que tem sido usado na maior parte do mundo. Estados Unidos, Reino Unido, Europa, Canadá, Austrália e México têm promovido aumentos em suas taxas de juros para frear a alta dos preços. Com juros mais altos, o crédito fica mais caro e escasso e as pessoas são mais incentivadas a poupar, diminuindo a liquidez da economia.
FRASE
"A confiança é construída com consistência"
Lincoln Chafee, político norte-americano
Monetarismo
No contexto dessa abordagem, a inflação é tratada como um fenômeno monetário. O aumento dos preços acontece porque há um relativo “excesso” de dinheiro no sistema, pressionando a demanda sobre a oferta. Esse “excesso” é sempre relativo. Uma economia pode ser pobre, mas se a oferta for muito restrita, o pouco dinheiro que circula pode ser o suficiente para pressionar a demanda e fazer os preços subirem.
Efeito colateral
O aumento das taxas de juros é o instrumento mais eficaz para reduzir o volume de dinheiro em circulação, diminuindo a demanda. Por outro lado, juros mais altos provocam o desaquecimento da economia. O crédito mais caro reduz o consumo, fazendo as vendas caírem. Além disso, as empresas investem menos pois o custo do capital fica mais caro e alguns projetos acabam sendo engavetados. O resultado final é um menor crescimento da economia.
Redução
Por conta desses efeitos, surge toda a discussão. Enquanto o presidente Lula e a equipe econômica do novo governo pedem a redução dos juros e maior tolerância com a inflação em prol do crescimento econômico, os dirigentes do Banco Central seguem adotando todo o rigor na condução da política monetária. Em recente entrevista, o presidente do BC afirmou que não adianta reduzir a taxa Selic se esse movimento não tiver credibilidade e consistência.
Credibilidade
A razão é simples. Suponha que uma eventual nova diretoria do Banco Central decida reduzir os juros para 10% ao ano. Como consequência, o Tesouro Nacional passa a emitir títulos da dívida pública com essas taxas. Será que, nas condições econômicas atuais, o mercado aceitaria comprar esses títulos, com essa rentabilidade? Caso o mercado não aceite, o governo simplesmente não teria como se financiar.
Juros futuros
A questão é que o Banco Central estabelece o nível da taxa de juros vigente, a taxa spot, mas o mercado financeiro também negocia contratos de juros futuros. Esses contratos são úteis para a negociação de dívidas ou quando uma empresa pretende trocar um compromisso financeiro pós-fixado por uma dívida prefixada. Atualmente, os contratos futuros consideram juros de 13,48% ao ano para contratos de 10 anos.
Juros futuros 2
O que o presidente do Banco Central quer dizer é que uma taxa Selic artificialmente baixa não reduz a curva de juros futuros e pode ainda tornar esses juros futuros mais elevados ainda, se o mercado tiver a percepção de que a inflação sairá do controle e que nos anos seguintes um aperto monetário mais forte será necessário para controlar os preços.
Confiança
Além disso, a partir da curva de juros futuros é possível calcular a inflação implícita considerada pelo mercado. Para os contratos de juros de 10 anos, a inflação implícita está atualmente em 6,83% ao ano. Ou seja, o mercado não está nada confiante na capacidade do governo em controlar a inflação. Para transmitir essa confiança, o governo deve fazer sua parte, equilibrando suas contas e mantendo a responsabilidade do lado fiscal.