Taxa de juros (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Tão previsível quanto o resultado da reunião do Comitê de Política Monetária que manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, foram as reações de parte do governo federal, atacando a decisão do Copom e dirigindo críticas específicas ao presidente do Banco Central. O calor do debate, no entanto, fez perder o foco da discussão e do problema, dando margem para a proliferação de mistificações que devem ser evitadas.
Repercussão
Na quinta-feira, houve uma enorme desvalorização das ações das empresas e do Real. O Ibovespa fechou com queda de -2,29% e o Dólar teve alta de +1,38% frente à moeda brasileira. Essa repercussão ocorreu porque, entre outras coisas, ficou evidente a falta de coordenação na condução econômica e os conflitos entre a política monetária e a política fiscal.
FRASE
"Os capitalistas não são maus, eles simplesmente perseguem seus próprios interesses. Cabe a nós criar um sistema que alinhe seus interesses com o bem maior"
Joseph Stiglitz, Nobel de Economia em 2001
Juros elevados
Não há como negar que os juros no Brasil estão em um patamar bastante elevado e isso é um obstáculo para o crescimento. Taxas de juros altas tornam o crédito mais caro, diminuindo o consumo de curto prazo. Além disso, os juros altos aumentam o custo do capital e os prêmios para investimento. Muitos projetos acabam não sendo realizados porque não oferecem taxas de retorno maiores do que as taxas de juros infladas. Com menos investimentos, há menor crescimento.
Eficácia
Juros altos são a resposta ortodoxa para combater a inflação, independente de qual seja a sua causa. É o remédio universal. No entanto, temos observado que a elevação dos juros não tem sido muito eficaz para o enfrentamento do problema. Os juros foram elevados de 2% para 13,75% ao ano e nesse período a inflação tem incomodado sem cessar; continua acima da meta, aos 5,60% ao ano, e com tendência de aumentar até o fim do ano.
Questões
São essas as questões que precisam ser debatidas e solucionadas. Existirá sempre o dilema entre privilegiar o estímulo à atividade ou a estabilidade econômica. Qual deve ser a prioridade? Se baixo crescimento é ruim, uma inflação alta também é muito prejudicial para as pessoas, e a combinação das duas coisas é pior ainda. E por que a alta dos juros altos não tem conseguido segurar a inflação? O que tem impedido o aperto monetário de produzir efeitos?
Capital
Precisam ser encontradas soluções técnicas para esses problemas. Não existe um complô dos "capitalistas" para manter os juros elevados e "fazer dinheiro fácil". Mesmo porque, quem são os donos e acionistas das empresas brasileiras são esses mesmos capitalistas, que ganhariam muito mais dinheiro com as empresas vendendo mais, investindo com capital mais barato e com a economia crescendo.
Gastos
Não há como negar que a política fiscal tem um grande impacto na atividade, pelos recursos que pode injetar na economia, mas também não é possível acreditar a solução para os nossos problemas é simplesmente gastar mais, como se cada Real gasto fosse magicamente multiplicado por cinco e retornasse aos cofres públicos na forma de aumento de arrecadação.
Endividamento
Também não é possível isolar o custo do capital do nível do endividamento público. Se o resultado fiscal é pior e o tamanho da dívida pública cresce, é natural que a taxa de juros vai aumentar e não diminuir. Compare-se os títulos da dívida da Alemanha e da Itália. Os títulos italianos pagam 2% ao ano a mais que os alemães, o que é muito para o padrão europeu. São duas economias industriais e robustas. A diferença é que a Itália tem um enorme endividamento público, e a Alemanha não.
Desafio
Como conciliar crescimento com estabilidade econômica é o nosso grande desafio. Vencê-lo demandará um esforço enorme para superar problemas como nosso baixo desempenho escolar, baixa produtividade, a deterioração das contas públicas, etc. E não faremos isso se estivermos ocupados escolhendo inimigos pessoais como os causadores dos nossos problemas.