Silicon Valley Bank (Divulgação)
Na semana passada, o mundo foi surpreendido com a notícia da quebra de um banco norte-americano, o Silicon Valley Bank. Apesar de não ser um dos principais bancos comerciais dos Estados Unidos, o Silicon Valley Bank não era uma instituição irrelevante. Tratava-se do 16° maior banco do país, com US$ 209 bilhões em ativos e cerca de US$ 175 bilhões em depósitos. Esse foi o maior colapso de uma instituição bancária no país desde a crise financeira de 2008.
Era dos juros altos
O colapso do Silicon Valley Bank gerou preocupações sofre eventuais efeitos em cadeia que podem acontecer a partir dessa falência. Certamente não se espera uma crise sistêmica aos moldes da que aconteceu em 2008, mas sem dúvidas esse episódio é representativo do complicado cenário de crescimento econômico mundial. É inegável que a quebra do banco é um símbolo desta nova era de aperto monetário e taxas de juros mais altas.
FRASE
“Juros altos impedem o crescimento econômico, limitam o acesso ao crédito e restringem o investimento”
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central
Contágio
Dessa vez, não deve ocorrer um contágio sistêmico, onde a quebra de uma instituição acaba arrastando outras, já que todas possuem basicamente os mesmos ativos e trocam contratos e garantias entre si. Em 2008 tivemos uma situação diferente, pois a crise se originou no mercado imobiliário norte-americano. É um mercado que possui um valor gigantesco, de cerca de US$ 50 trilhões, ou mais de 200 vezes o valor de todos os ativos do Silicon Valley Bank.
Contágio 2
Além da escala diferente, em 2008 as instituições financeiras foram atingidas por uma onda de desvalorização de ativos. Após o estouro da bolha imobiliária, vários contratos tiveram seus valores reduzidos a zero por conta da inadimplência. Dessa vez, os ativos perderam valor, mas não caíram a zero. O problema é que houve falta de liquidez, ocasionada por uma corrida para sacar os valores do banco.
Corrida
A corrida para sacar os valores depositados no Silicon Valley Bank começou após rumores de que as perdas nas reservas do banco seriam tais que comprometeriam a capacidade de honrar os depósitos. O banco possuía investimentos em títulos prefixados da dívida americana como parte de suas reservas. Com o aumento das taxas de juros, os títulos prefixados perderam muito valor, já que estavam indexados a uma taxa menor.
Corrida 2
O banco não teve recursos de curto prazo para fazer frente à corrida por saques. Na verdade, nenhum banco tem recursos líquidos o bastante para enfrentar uma corrida dessas. Em apenas 24 horas, o Silicon Valley Bank enfrentou pedidos de saques somando US$ 42 bilhões e o banco não conseguiu vender ativos rápido o suficiente para fazer frente às retiradas.
Intervenção
Mesmo com um baixo risco de contágio, a situação desperta preocupações no sistema financeiro e exigiu a intervenção das autoridades financeiras norte-americanas. Estas assumiram os ativos do banco e serão responsáveis por pagar aos clientes os valores depositados no banco, dentro do limite de garantia segurada (US$ 250 mil). Valores que excedem esse limite terão que aguardar uma solução definitiva.
Perdas
As preocupações com o sistema financeiro ajudaram a derrubar as cotações das bolsas de valores norte-americana. Na sexta-feira, os quatro principais bancos dos Estados Unidos tiveram perdas que somaram US$ 52 bilhões em valor. A Nasdaq, bolsa que agrega as empresas de tecnologia, exatamente o setor que era o foco do Silicon Valley Bank, teve perdas de mais de 5% ao longo da semana.
Juros
Provavelmente, a gestão de risco do banco não foi das melhores e sua direção não pode ser isentada de culpa, mas sem dúvida a quebra do Silicon Valley Bank é um reflexo da intensidade do aperto monetário adotado pelo FED. É possível que o episódio faça a política de elevação dos juros nos Estados Unidos ser repensada e talvez suavizada. E, quem sabe, isso pode ter reflexos até na política monetária brasileira.